sábado, junho 26, 2010

A anarquia no Ministério da Educação e a fusão de Agrupamentos de Escolas nas notícias

“Ideias loucas” do ministério deixaram educação “insustentável”

A educação em Portugal está «insustentável» e, na opinião de Nuno Crato, o grande responsável é o ministério e as «ideias loucas» e «mirabolantes» de algumas pessoas que «não percebem nada de educação», mas controlam as escolas e o ensino. Esquecem-se que, afinal, bastam «meia dúzia de coisas simples». O problema é que «ninguém as quer fazer», lamentou anteontem o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), no jantar-debate “Quintas na Quinta”, o último antes de férias.

À partida, pede-se «respeito pelo saber», no entanto, hoje em dia, «o que tem valor é um dia apertar a mão ao Ronaldo», ironizou o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, defendendo uma maior liberdade das escolas, desde logo com uma das rotinas mais básicas: a elaboração dos horários. «O Ministério está preocupado em controlar a Educação, não está preocupado com a Educação. Não dá liberdade, quer controlar as pessoas e não faz avaliação de resultados. Assim não vamos longe», lamentou Nuno Crato, na Quinta das Lágrimas, perante uma assistência com muitos professores e vários nomes reconhecidos do ensino em Portugal, como Montezuma de Carvalho ou Carlos Fiolhais.

Avaliar os alunos. Esta é uma das «ideias simples» defendida pelo também presidente do TagusPark. Mas o que o país precisa é de uma avaliação externa. «São mais de 30 as disciplinas do ensino básico, ao longo de nove anos. E os nossos alunos são avaliados externamente a duas», ao fim desse tempo», criticou, acrescentando que mesmo essa avaliação «não é suficientemente séria».

O ideal é que fosse realizada por um instituto que não estivesse sob a tutela do Ministério da Educação, porque, continuou, os resultados dos exercícios «valem também para avaliação do próprio ministério».

Depois, pedem-se «metas de aprendizagem», que vão além de «currículos com várias páginas vagas», onde se lê, por exemplo, que é necessário «uma atitude positiva forte perante a aprendizagem». «Duvido que isto vá resultar de alguma coisa», lamentou, antes de mais, porque, frisou Nuno Crato, as metas divulgadas pelo ministério foram criadas por alguém que é contra as metas e que «não percebe o que são metas de aprendizagem».


Professor ou simples animador cultural?

E para um ensino de qualidade, são necessários «bons professores», ainda que haja quem acredite que quem está perante os alunos deve ser apenas «uma espécie de animador cultural». «Transmitir conhecimentos? Soa mal», ironizou, acrescentando que o sistema de selecção de professores, baseado na nota final de curso, «é o pior possível», até porque as várias escolas de formação têm «qualidade muito variável».

Ou seja, «estamos a dizer sejam o mais facilitistas possível para que os alunos entrem», adiantou o presidente da SPM, que defende a realização de uma exame de admissão à profissão. E porque é que não se faz, já que, acredita Nuno Crato, até seria uma solução sem a oposição dos sindicatos? «Isso iria aborrecer 20 técnicos do ministério. Se essa avaliação fosse feita, algumas escolas ficavam muito aborrecidas», sublinhou, reforçando a importância da formação de professores.

Crítico relativamente à escolaridade obrigatória até aos 18 anos, porque defende que o que conta não é o tempo que se passa na escolas, mas a qualidade do ensino, especialmente nos anos intermédios, Nuno Crato adverte, que dentro de muito pouco tempo, vão faltar professores de Matemática, daí que insista na formação e nos exames de entrada para a profissão, numa lógica de valorização do esforço.


“Simplesmente ensinar” para não perderam o comboio

Como fazer com que os alunos gostem mais de Matemática? Nuno Crato não embarca em fórmulas mágicas e diz que a receita é «simplesmente ensinar», porque «o gosto dá vontade de estudar, mas o saber também leva ao gosto».

E aqui entra a «pedagogia do comboio». Será que podemos dizer aos alunos que o comboio espera por eles? O presidente da SPM tem a certeza que não: «é preciso apanhar o comboio e devemos ajudar todos a apanhá-lo», e isto não esquecendo os estudantes com maiores dificuldades, nem tão pouco deixar de valorizar os melhores.

«Nós temos de separar, porque eles estão separados. Nem todos andam à mesma velocidade», por isso, provavelmente, tem de haver um comboio especial para aqueles que não são tão bons, mas que também devem chegar ao destino, mesmo que seja mais tarde.

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