segunda-feira, dezembro 31, 2007

Para entrar no Ano Novo como deve ser


ESPERANÇA


O poema quer nascer das trevas.
Está nas palavras, e não as sei.
É como um filho que não tem caminho
No ventre da mãe.
Dói,
Dói,
Mas a negar-me teimosamente
A todos os acenos libertadores
Do desespero dilacerado.
No silêncio cansado
E paciente
Canta um galo vidente.
E diz que cada dia
Que anuncia
É sempre um dia novo
De renovo
E poesia.

Coimbra, 31 de Dezembro de 1989


in Poesia Completa II - Miguel Torga

terça-feira, dezembro 25, 2007

Presépio em 2007


Por decisão judicial, informa-se que este ano o Presépio tem algumas condicionantes que devem ter em conta antes de o fazerem, pois caso contrário correm alguns riscos... A saber:

1. O Presépio não deve ter Vaca, a menos que esta tenha atestado de sanidade veterinária a comprovar que não está louca... Esta não pode ser substituída por outros animais, nomeadamente aves (por causa da gripe das aves) ou porcos (por causa do recente surto de doença vesicular).

2. A presença de Reis Magos não é aconselhável, visto que, do ponto de vista racial, é pouco representativa da variedade humana (só é aceitável se tiver um europeu mediterrânico, um europeu de leste, um europeu germânico, um africano, um bosquímane, um árabe, um aborígene australiano, um índio da América do Sul, um índio da América do Norte, um inuit, um tailandês, um indiano, e um chinês).

3. Na remota possibilidade de terem todos estes Reis Magos no Presépio, há ainda o problema da montada: este ano não há Camelos, visto estarem quase todos a protestar na margem sul do Tejo - os três que restavam são actualmente ministros e não tiveram direito a férias...

4. O Presépio não deve ter Burro, visto este ter ficado na Escola a dar aulas de substituição, a preparar as próximas aulas de recuperação e a tentar ler os 593 textos que o Ministério tentou publicar na paragem de aulas do Natal.

5. A presença de Maria e José não é aceitável, porque estes têm de ir à Escola para avaliar o Burro - eles queriam era avaliar a Ministra da Educação ou os respectivos Secretários de Estado desse Ministério, mas estes não são avaliáveis...

6. É ainda totalmente proibido fazer o Presépio em Estábulos e Grutas, pois a ASAE está a verificar que estes não estão em conformidade com as normas europeias e quem o fizer sofre coima elevadíssima. Os outros locais só serão licenciáveis se tiverem casa de banho anexa, locais refrigerados para guardar alimentos, palha certificada e licença de habitabilidade passada pela respectiva Câmara Municipal.

7. Não se recomenda o nascimento de Jesus em Maternidades pequenas do interior porque estas têm uma elevada taxa de cesarianas, que como se sabe é má para a saúde materno-infantil (e há ainda o problema de ser uma cesariana, derivada da palavra César, o Imperador romano, o que não é aceitável para uma família judaica...). Em dúvida fazer mesmo o parto numa belíssima ambulância, que agora têm um kit de partos que é melhor que a maioria das maternidades portuguesas.

8. O Presépio ficou proibido de ter Menino Jesus, pois foi considerado pelo Tribunal de Menores um descarado aproveitamento de uma criança, além de que a Relação de Coimbra ordenou a entrega do menor ao Pai biológico antes do Natal (embora ainda haja dúvidas sobre a paternidade, pois a audição ao Arcanjo Gabriel foi inconclusiva e o teste de ADN ainda não voltou do Reino Unido).

9. É proibida a utilização no Presépio de objectos de barro, a menos que a argila e tintas sejam previamente certificadas pelo IPQ, bem como a empresa que as produziu.

10. A utilização do Pinheiro de Natal só será autorizada desde os mesmos sejam abatidos em local autorizado pelo Ministério da Agricultura e seja paga a taxa de reciclagem dos mesmos à Sociedade Ponto Verde. A utilização de luzes de Natal só será permitida se estas tiverem avaliação do índice de consumo energético feito pela IGAE (classes A ou B) e estiverem a ser usadas com energia eléctrica proveniente de fontes eólicas, geotérmicas ou das ondas.

11. Dado que não há acordo entre os astrónomos acerca do que seria a Estrela de Natal (uma Nova, uma Supernova, um Cometa ou a Conjunção de Júpiter com Saturno) esta deverá ser removida do Presépio, até novas ordens.

12. Não deve haver pastorinhos menores ou idosos no Presépio, visto que as crianças não devem ser exploradas e os idosos têm direitos...

13 O Presépio não deve ter objectos ou representações de coisas que ofendam outras opiniões, crenças ou religiões (é proibido ter imagens de seres vivos, por causas dos muçulmanos, imagens de anjos, por causa das religiões animistas, musgo ou palha, por causa dos ecologistas, ou ainda representações de templos, por causa de todas as religiões).


Se cumprir com todos estes aspectos poderá ainda fazer o Presépio, se pedir autorização à Comissão da Liberdade Religiosa, dirigida ao Dr. Mário Soares, com 3 meses de antecedência. E nem pensem em Pai Natal, porque este ano ele não vem, pois a Força Área teve de o abater por excesso de velocidade e por não ter respondido à Torre de Controle de Tráfego Aéreo...

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Boas Festas...

...são os votos da equipa deste Blog, que através deste pequeno filme, quer mandar a todos os nossos leitores, colaboradores e amigos...!


quarta-feira, dezembro 19, 2007

35 anos depois - última missão tripulada à Lua - IV

Faz hoje 35 anos que terminou a aventura espacial (na sua forma mais pura e dura) com o regresso à Terra da Apollo XVII e sua tripulação. Ficou a obra: 6 alunagens, dezenas de quilos de rochas lunares e a confirmação de que quando um homem quer a obra nasce. Recordemos agora os heróis da Apollo XVII e de um dos responsáveis pela aventura espacial através de textos da Wikipédia:

Harrison "Jack" Schmitt (Santa Rita, Novo México, EUA3 de Julho de 1935) é geólogo, Astronauta, ex-Senador dos Estados Unidos e foi o 12º e último homem a pisar na superfície da Lua, como membro da missão Apollo 17, a última a pousar no satélite em Dezembro de 1972.

Antes de se juntar à NASA, como membro de primeira equipe de astronautas-cientistas da agência espacial em 1965, “Jack” Schmitt trabalhou no Centro de Astrogeologia dos Estados Unidos, onde realizou diversas experiências e desenvolveu técnicas de geologia de campo que viriam a ser utilizadas pelas tripulações das missões Apollo. Após sua admissão, Schmitt exerceu um papel chave no treinamento dos astronautas da Apollo para ajudá-los a ser bons observadores geológicos quando estivessem na órbita lunar e competentes geólogos de campo na superfície do satélite. Após o fim de cada missão, ele participava dos exames e avaliações do material recolhido e ajudava as equipes nos aspectos científicos de suas missões.

Como ele era o único geólogo profissional no grupo de astronautas, e havia-se graduado na pilotagem dos módulos de comando e lunar, não foi surpresa quando foi escolhido para se tornar tripulante da última das missões lunares, a Apollo 17, onde exerceu um trabalho fundamental no exame e recolha de materiais rochosos da região lunar de Taurus-Littrow, em companhia do comandante da missão, Eugene Cernan. Na volta para a Terra, Schmitt tirou uma das mais famosas e divulgadas fotografias da terra vista do espaço, A Bola Azul, mostrando integralmente todo o planeta azul e esférico brilhando no espaço.

Em Agosto de 1975, Harrison Schmitt deixou a NASA para concorrer ao Senado americano pelo Partido Republicano e foi eleito Senador pelo estado do Novo México, seu estado natal. Derrotado nas eleições para um segundo mandato, passou a trabalhar como consultor em Geologia, Espaço e políticas públicas.

Ainda hoje ele continua advogando o retorno a Lua, para que se possa utilizar o satélite como fonte de Hélio-3, um tipo de isótopo radioativo de hélio abundante na Lua, combustível fundamental para o desenvolvimento de reatores nucleares a serem usados como propulsores de motores de naves espaciais, capaz de atingir velocidades muito maiores que as actuais, possibilitando a exploração espacial dos satélites e planetas mais distantes do nosso sistema solar.


Eugene Andrew Cernan (Chicago, 14 de Março de 1934) é um ex-astronauta norte-americano, filho de mãe checa e pai eslovaco, que esteve no espaço por três vezes, na última delas como comandante da Apollo 17, a última das missões Apollo a pousar na Lua.

Cernan foi o 11º astronauta a pisar em solo lunar e seu co-piloto Harrison Schmitt o 12º e último, de todos os astronautas que exploraram o satélite, já que, como comandante, ele era o primeiro a descer da nave. Entretanto, Cernan exibe até hoje o título – que inclusive é o nome do livro com as memórias de suas viagens espaciais – de “O Último Homem na Lua” - já que, também por ser o comandante, foi o último a re-entrar no Módulo Lunar para a viagem de volta, sendo suas as últimas pegadas feitas na superfície da Lua trinta e cinco anos atrás.

Astronauta dos programas Gemini e Apollo, Eugene Cernan viajou para a Lua em duas ocasiões diferentes, a primeira apenas sobrevoando o satélite na Apollo 10 e a segunda comandando a Apollo 17 e pousando na região de Taurus-Littrow. Nesta missão, ele e Harrison Schmitt, seu parceiro de viagem, passaram três períodos em actividades extra-veiculares na superfície, cobrindo um total de 22 horas fora do Módulo Lunar Falcon, em comparação com as duas horas dos pioneiros Neil Armstrong e Edwin Aldrin três anos antes. Também quebraram os recordes de quantidade de material geológico trazido de volta e dirigiram mais de 35 km o jipe lunar pela superfície de Taurus- Littrow.

Quando Eugene Cernan se preparava para subir a escada do módulo Falcon de volta para a Terra, ele disse as palavras que se tornaram as últimas de um ser humano na face da Lua: “No momento em que deixamos a Lua e Taurus-Littrow, partimos como chegámos, e se for a vontade de Deus voltaremos com paz e esperança para toda a Humanidade. Quando dou estes últimos passos para fora da superfície lunar, gostaria de lembrar que o desafio da América de hoje, forjou o destino do homem do amanhã. Deus abençoe a tripulação da Apollo 17”.


Ronald Ellwin Evans Jr. (St. Francis, 10 de Novembro de 1933Scottsdale, 7 de Abril de 1990) foi um astronauta dos Estados Unidos e tripulante da missão Apollo 17, a última a pousar na Lua, em Dezembro de 1972.

"Ron" Evans fez seus estudos secundários e universitários em instituições de seu estado natal do Kansas e em 1957 completou seu o treino posterior como piloto naval de combate. Foi nesta função, enquanto servia a bordo do porta-aviões USS Ticonderoga durante a Guerra do Vietnam, que ele recebeu a notícia de sua selecção para o treino de astronauta da NASA, no qual havia se inscrito.

Evans entrou para a NASA no grupo de dezanove astronautas seleccionados em Abril de 1966 e após o período de treino serviu como membro das equipes de apoio das missões Apollo 7 e Apollo 11 e comandante reserva da Apollo 14.

Seu vôo no espaço deu-se como piloto do Módulo de Comando Americano da missão Apollo 17, a última missão lunar, junto com os astronautas Eugene Cernan, comandante da missão e Harrison Schmitt, piloto do Módulo Lunar Falcon. Enquanto os dois últimos desciam na Lua, ele permaneceu em órbita realizando observações geológicas da superfície, tirando fotografias de alvos específicos no satélite. Na viagem da volta para a Terra, ‘Ron’ realizou actividades no espaço durante uma hora e seis minutos, saindo da Apollo para recolher câmeras e cassetes e fazer uma inspecção visual da área de carga da nave.

Após servir como piloto reserva da missão americano-soviética Apollo-Soyuz, que realizou o encontro em órbita entre naves espaciais dos dois países, em 1975, e de participar do programa de desenvolvimento do vai-vem espacial, Ronald Evans retirou-se da NASA em Março de 1977 e tornou-se um executivo da indústria de carvão.

Condecorado várias vezes pela NASA e pela Marinha dos Estados Unidos, ele morreu de ataque cardíaco em Abril de 1990 na cidade de Scottsdale, estado do Arizona, deixando mulher e dois filhos.


John Fitzgerald Kennedy (Brookline, Massachusetts, 29 de Maio de 1917Dallas, 22 de Novembro, 1963) foi um político americano e o 35° presidente de seu país (19611963).

Sua família era de ascendência irlandesa e tradicionalmente católica. Kennedy era filho de Joseph P. Kennedy, embaixador dos Estados Unidos no Reino Unido no fim dos anos 30. Formou-se em Relações Internacionais na Universidade de Harvard em 1940. Serviu na Marinha durante a Segunda Guerra Mundial, sendo ferido em Guadalcanal em 1943. Condecorado por bravura, afastou-se do serviço militar por problemas na coluna vertebral. Ainda quando jovem, participou do Movimento Escuteiro.

Desafio da conquista da Lua

Kennedy foi o presidente dos Estados Unidos que lançou o desafio de chegar a Lua em uma década, que resultou no Projeto Apollo. No famoso discurso em 1961 Kennedy lançou o desafio de "enviar homens a Lua e trazê-los de volta a salvo".

"I believe this nation should commit itself to archieving the goal, before this decade is out, of landing the man on the moon and returning safely to Earth."
"Eu acredito que a nação deva se comprometer para alcançar o objetivo, antes do fim da década, de aterrissar o homem na lua e fazê-lo voltar em segurança para a Terra."

Em outro discurso na Universidade Rice suas palavras foram: We choose to go to the moon. We choose to go to the moon in this decade and do the other things, not because they are easy, but because they are hard ("Nós decidimos ir a Lua. Nós decidimos ir a Lua nesta década e fazer as outras coisas, não porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis").



Post conjunto dos Blog AstroLeiria, Geopedrados, GeoLeiria e Ciências Correia Mateus, entre outros.

O abandono a que deixam as nossas terras

Estrutura critica ausência de um clínico a bordo
Ordem dos Médicos receia "casos fatais" com novos helicópteros de emergência
18.12.2007 - 16h38 Lusa

A Ordem dos Médicos alertou hoje para a possível ocorrência de "casos fatais" caso sejam colocados em funcionamento helicópteros de emergência sem a presença de um clínico a bordo, como estará previsto pelo Ministério da Saúde.

"Irá inexoravelmente assistir-se a casos fatais", estimou o bastonário em exercício da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, sublinhando que não se podem transportar doentes graves sem acompanhamento médico.

Em causa estão os helicópteros de suporte imediato de vida (SIV) para a região interior do país, cuja equipa será constituída por um técnico de emergência e por um enfermeiro. "É um acto criminoso do INEM [Instituto Nacional de Emergência Médica] e do ministro da Saúde", considerou o responsável.

Em conferência de imprensa, a Ordem dos Médicos criticou ainda as viaturas de suporte imediato de vida, que terão um tripulante de ambulância e um enfermeiro, considerando que estes elementos "não têm condições para substituir o trabalho médico". "É totalmente enganadora a afirmação de que populações que deixam de ter médico disponível estão salvaguardas por uma destas viaturas", afirmam os responsáveis da Ordem.

Depois desta análise, José Manuel Silva avisou os médicos que assumam responsabilidades telefónicas em situações de emergência nos actos praticados pelas viaturas SIV de que o farão "exclusivamente por sua conta e risco e contra o parecer técnico da Ordem dos Médicos".

O bastonário em exercício estranha ainda que o INEM não tenha ainda apresentado os protocolos previstos para serem usados nas viaturas SIV, apesar de a Ordem os ter solicitado.

Esta conferência de imprensa da Ordem dos Médicos acontece a menos de um mês da segunda volta das eleições para a estrutura que representa os clínicos. Na primeira volta, o candidato Miguel Leão ficou à frente do bastonário Pedro Nunes, que por isso decidiu suspender o seu cargo.

in Público - ver notícia

sexta-feira, dezembro 14, 2007

35 anos depois - última missão tripulada à Lua - III


Faz hoje 35 anos que um homem pisou, pela última vez, o nosso satélite natural. Subiu em primeiro lugar para o módulo lunar Challenger o astronauta (e geólogo) Harrison H. Schmitt, seguido do comandante da missão, o astronauta Eugene A. Cernan. Os astronautas deixaram na Lua uma placa que diz: Here Man completed his first exploration of the Moon, December 1972 A.D. May the spirit of peace in which we came be reflected in the lives of all mankind - Aqui o Homem completou a sua primeira exploração da Lua, Dezembro de 1972. Possa o espírito de paz no qual viemos refletir-se nas vidas de toda a humanidade. Terminava assim a principal façanha da saga da missão Apollo...

Post conjunto com o Blog AstroLeiria, Geopedrados, Ciências Correia Mateus e GeoLeiria, entre outros.

terça-feira, dezembro 11, 2007

35 anos depois - última missão tripulada à Lua - II

Foto da tripulação da Apollo XVII


Faz hoje 35 anos que a missão Apollo XVII chegou à Lua. Os astronautas Eugene A. Cernan (comandante da missão) e Harrison H. Schmitt (piloto do módulo lunar) foram os últimos homens a andarem na Lua, enquanto que o astronauta Ronald E. Evans (piloto do módulo de comando) continuava a girar à volta do nosso satélite natural...


Rover lunar da missão apollo XVII


Harrison H. Schmitt



Eugene A. Cernan

Mais informações AQUI.

PS - post conjunto do AstroLeiria e deste Blog.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

35 anos depois - última missão tripulada à Lua - I

Recordemos que faz hoje 35 anos que partiu a última missão tripulada do Projecto Apollo. Foi a única a levar um cientista (o geólogo Harrison “Jack” Schmitt) até à superfície lunar...

  • TRIPULAÇÃO:
  • Eugene Cernan – Comandante
  • Harrison Schmitt – Piloto do Módulo Lunar
  • Ronald Evans – Piloto do Módulo de Comando

  • Missão: 6º Pouso na Lua
  • Lançamento: 7 de Dezembro de 1972
  • Pouso Lunar: 11 de Dezembro de 1972
  • Local de Pouso: Taurus-Littrow
  • Retorno à Terra: 19 de Dezembro de 1972
  • Módulo de Comando: America
  • Módulo Lunar: Challenger
NOTA: Post conjunto deste Blog e do AstroLeiria.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

35 anos desde a última ida à Lua

Este Blog, em conjunto com o AstroLeiria (e outros Blogues que venham a aderir...) irá recordar o momento em que, pela última vez, um homem pisou a Lua, vai fazer em 14 de Dezembro 35 anos.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Os mitos de Fausto

Do Blog Grande Loja do Queijo Limiano publicamos, com a devida vénia, o seguinte post:

O compositor e cantor português, Fausto, lançou nesta quadra um disco duplo, recolhendo gravações antigas, em modo de “o melhor de”, relativo às suas canções de amor, dispersas e misturadas em diversos discos, desde a década de setenta.

Se as canções de amor de Fausto merecem reedição, também as de ódio merecem outra leitura, à luz dos mitos e lêndeas do Portugal moderno.

Uma das composições de amor, Rosalinda, de 1977, merece figurar em qualquer compêndio de música popular portuguesa. Nessa, como noutras, Fausto mistura o amor poético, com o ódio revolucionário derivado da luta de classes e que acalenta em várias das suas composições, contra a “burguesia”, audível desde o ano de publicação do seu primeiro álbum, em 1970.

Em 1974, nos alvores do PREC, Fausto, extremava-se naturalmente à esquerda, associado aos cantores de intervenção, como José Afonso, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira ou Vitorino, colaboradores num segundo disco a que chamou P´ró que der e vier e com letras tão idiossincráticas como Venha cá, Sr. Burguês ou Marcolino ou Daqui desta Lisboa, num poema de Alexandre O´Neill, com a participação vocal de José Afonso.

No disco seguinte, Um beco com saída, de 1975, continuava a saga musical empenhada na intervenção social, em tempo de revolução acelerada e próxima das sonoridades GAC - Vozes na Luta, onde nem faltava o apelo à presença dos camponeses com forquilhas, foices e enxadas, para a Revolução Popular, em toada de chulas e viras.

O longo dos anos, Fausto não mudou muito, musicalmente. Sempre num registo de excelência, o quarto disco, Madrugada dos Trapeiros, de 1978, excede a escala do compositor, naquele que provavelmente será o seu disco mais homogéneo e aperfeiçoado e é esse que contém a obra prima, Rosalinda, acompanhada da Mariana das sete saias e em que se canta que Uns vão bem e outros mal.

Se a obra musical de Fausto ficasse por esses quatro discos, já havia lugar cativo para o compositor, no panteão da nossa música popular. Mas depois disso, houve ainda outros e bons de que aqui não se cuida , agora, falar.

Entre esses quatro, porém, o primeiro dos LP´s, intitulado simplesmente Fausto, de 1970, está esgotado há muitos anos. Foi ouvido por muito poucas pessoas e contém músicas de luxo, como a canção Ó Pastor que Choras, editada antes em single. Conforme se informa neste local selecto, (de onde se retiraram as fotos) parece quem nem sequer existem as bobines originais, que pertenceriam à Philips. Uma perda, para a nossa cultura popular, portanto.

sábado, dezembro 01, 2007

sexta-feira, novembro 30, 2007

Cantando e Rindo, a cantiga é uma arma

Do insuspeito Blog Grande Loja do Queijo Limiano publicamos o seguinte post, por causa das referências ao cantor Fausto, datado do de 07.09.2007:


Em Portugal, desde finais dos anos sessenta e até aos anos oitenta, a música popular, no seu maior espectro sonoro, cantou-se e tocou-se à esquerda e então virou-se o disco e cantou-se o mesmo, mas em coro com as editoras internacionais, que desconhecem outra cor política que não a do lucro. Trovante, Rui Veloso, UHF, Xutos e Pontapés, Delfins, e outros que se lhes seguiram, não apagam a imagem sonora dos anos precedentes.

Em 1974, Uma Gaivota voava, voava, num mar de rosas encarnadas e cravos de ocasião, pela voz esquecida de uma Ermelinda Duarte.

Nesse mesmo ano, a explosão de música popular dos cantores de intervenção, avassalou todas as ondas de rádio disponíveis e fixou músicas que se tornaram standards.

José Afonso, cantava a toda a hora, não só a Grândola Vila Morena, como as músicas antigas dos álbuns dos anos setenta, com destaque para o Venham mais cinco e a Formiga no Carreiro. José Mário Branco entoava a Ronda do soldadinho que não se pudera ouvir anteriormente e contava a história de uma mãe e dos seus dois filhos.

A par de José Afonso, José Mário Branco, Fausto, Sérgio Godinho, José Jorge Letria, Luís Cília, GAC-Vozes na Luta, Francisco Fanhais, outros apareceram na onda de Manuel Freire e do sonho que comandava a vida desde o final dos anos sessenta.

Em 1970, os nomes sonantes no panorama musical de qualidade mínima, já são os mesmos de sempre: Manuel Freire a cantar Gedeão, os discos Movieplay a editar Nuno Filipe a trinar a Cantiga da Manhã e José Afonso com a canção de embalar. Com a chegada do Tempo Zip, na sequência do programa televisivo, aparecem Nuno Martins, Fernando Lopes, Joaquim Letria, Thilo Krassman, Urbano Tavares Rodrigues, para além do trio de fundadores e apresentadores do programa, Carlos Cruz, Raul Solnado e Fialho Gouveia.


Nesse tempo de zips, a toada geral da música portuguesa, soava à esquerda, mesmo nos festivais nacionais da canção, durante alguns anos menosprezados pelos promotores dos baladeiros e autores das letras das suas canções. Um deles, apresentador de rádio, João Paulo Guerra, definiu essas canções festivaleiras, protagonizadas nos anos sessenta por nomes como António Calvário, António Mourão, Madalena Iglésias, mesmo Paco Bandeira, como “nacional-cançonetismo”.

Seja como for, no início dos anos setenta, logo em 1971, as principais canções colocadas nos primeiros lugares, deviam tudo a autores de esquerda. José Carlos Ary dos Santos, comunista, era autor de várias letras, como o Cavalo à solta, cantado por Fernando Tordo que cantou depois a Tourada.

Foi nessa altura que ocorreu em Portugal o acontecimento da década, em matéria musical: o festival de Vilar de Mouros, em Julho-Agosto de 1971, no qual estiveram presentes Elton John e Manfred Mann e pelas cores nacionais uma série de grupos rock, de imitação da batida lá de fora, como os Psico, Sindicato, Pentágono com Paulo de Carvalho, Quarteto 1111, de José Cid, Objectivo, Pop Five music incorporated ( estes títulos!) e outros, como os Celos de Barcelos que levaram uma assobiadela monumental.

Ary dos Santos, fazia letras para músicas de Nuno Nazareth Fernandes e músicos como Pedro Osório e depois José Niza, durante anos a fio, concorreram ao Festival da Canção. Em 1970, Paulo de Carvalho, com Corre Nina; Fernando Tordo, com Escrevo às cidades; o Quarteto Intróito, com Verdes Trigais e Hugo Maia de Loureiro,com Canção de Madrugar, disputaram o primeiro lugar a um desconhecido Sérgio Borges, com Onde vais rio que eu canto que ganhou na votação popular dos representantes dos distritos nacionais. No ano seguinte, a vencedora Menina, interpretada por Tonicha, teve a concorrer, Paulo de Carvalho e Flor sem tempo ( a minha preferida ), Fernando Tordo e Cavalo à solta, (uma das preferidas); Hugo Maia de Loureiro e Crónica de um dia ( uma belíssima canção) e ainda a verdíssima Daphne e Verde Pino e Intróito dos Verdes Trigais e um EFE 5 com Rosa Roseira. Diga-se que na época, a vencedora Tonicha e a sua Menina, foram assimiladas pela bem-pensadoria da Esquerda, um perfeito exemplo do nacional-cançonetismo e disseram-no livremente, ao Mundo da Canção da época. A crítica das canções concorrentes, feita no Mundo da Canção, é exemplar do espírito do tempo. Sobre a canção de Paulo de Carvalho, Flor sem tempo, escrevia o crítico Fernando Cordeiro:"claro que havia Paulo de Carvalho e toda a gigantesca máquina publicitária levantada pela Movieplay e que chegaram resolutamente a ser apontados de possíveis vencedores. (...)Mas a promoção foi demasiado gritada, quase agressiva, primitiva, em suma. E a própria canção não ajudou muito. Musicalmente incipiente (estrutura harmónica monolítica, que é como quem diz limitada, pobre, mesmo em variedade e variações; de líricas." Resta dizer que a canção vencedora, Menina, era editada pelas produções Zip Zip, outra das majors da época

Torna-se interessante, ler o que diziam os diversos músicos e intérpretes, no tempo de um "fascismo" em que havia censura e segundo o seu particular relato histórico, havia uma mão férrea sobre o direito de exprimir opinião. Na Mundo da Canção, isenta de exame prévio até muito mais tarde, segundo confissão dos seus mentores, era notória a liberdade de expressão sobre gostos musicais e de tendência. Ary dos Santos, uma das figuras de proa dos letristas de música popular, nem falava sobre o festival, apesar de assinar várias letras de canções.

A par desses nomes que se repetiram durante anos a fio, pouca gente ouvia falar e muito menos ouvia a música da Filarmónica Fraude e depois, no final de 1973, da Banda do Casaco. Como não se deu importância mediática à música de Luís Rego que no início dos setenta, gravou em França um single fora de série, com a canção Amor Novo. Ou ainda a um espantoso LP de José Almada de 1970, com músicas e líricas fora de tempo e que ainda hoje se pode ouvir como uma pequena maravilha de composição, a par dos melhores discos de sempre, da música popular portuguesa.

E fora dos circuitos de bem-pensantes, e das referências na imprensa, havia o fado. E as canções de grupos como o Conjunto Maria Albertina, Duo Ouro Negro, o conjunto António Mafra do eram p´raí sete e pico e outros êxitos do género da Igreja toda iluminada, do Trio Odemira. Estes contavam para os espectáculos em “serões para trabalhadores”, da FNAT e em romarias populares, num tempo em que ainda nem havia cassetes, mas singles em 45 rtm, e que não se ouviam nos lugares dos progressistas da canção e da cançoneta. Marco Paulo viria depois, com os seus Dois amores e durou até aos anos oitenta ou um pouco mais.

Nessa altura porém, o panorama que o Sete apresentava ao público leitor, era outro, como se evidencia por esta imagem do jornal de 29.12.1982.

Em 26 de Fevereiro de 2000, o Diário de Noticias, pelas teclas dos especialistas do DNMais, elencava os 100 mais da música popular portuguesa. Os primeiros dez, são, por ordem decrescente:

José Afonso e Venham mais cinco, de 1973.

Amália Rodrigues e Com que voz, de 1970.

Carlos Paredes e Movimento perpétuo, de 1971

António Variações e Anjo da Guarda, de 1983.

Sérgio Godinho e Pano Cru, de 1978.

Rui Veloso e Ar de Rock, de 1980.

José Mário Branco e Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de 1971.

Pedro Abrunhosa e Viagens, de 1994.

Fausto, Por este rio acima, de 1982.

Madredeus, O espírito da paz, de 1994.

Quem disser que a Esquerda está mal representada ou que se equilibram as ideias do espectro político no campo musical, não está a ver bem o panorama ou não escutou esta banda sonora.


Imagens: de Vilar de Mouros, do livro Vilar de Mouros de Fernando Zamith, edições Afrontamento, 2003; Mundo da Canção, números de 1971 e 72 e do jornal Sete.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Fausto - 59 anos!


Faz hoje 59 anos que Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias, mais conhecido por Fausto, nasceu em Vila Franca das Naves. Um dos melhores cantores de sempre da música de Portugal (e também um excelente compositor, criador de poesia para ser cantada, director musical, ente outros) merece o nossos sinceros parabéns...!

É pena é que não tenha ainda sido atribuído o seu nome a uma Rua na nossa terra (eu sei que se decidiu que só os mortos merecem ter nome na nossa toponímia, mas esta poderia ser uma boa excepção para a regra...). E se não querem que exista uma Rua Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias (ou, simplesmente, Rua Cantor Fausto) há sempre hipótese de o homenagearem criando uma rua com o nome da mãe, Alice Bordalo Martins, ilustre professora dos anos quarenta na nossa terra (mais exactamente na Estação, dando aulas por baixo da actual casa de habitação do Sr. António Tibúrcio Lopes) e que já aqui foi alvo de um post...


PARABÉNS FAUSTO!

domingo, novembro 25, 2007

António Rómulo Gedeão de Carvalho...



SCT 2007 - Tertúlia on-line XI

O último Alquimista

Era uma vez um Cientista com alma de Poeta.

Era um Senhor (muito sério) com uma vontade juvenil de escrever.
Era um Professor (um Mestre) que era trocista sem saber.
Era um Anarquista com regras e vontades...

Obrigado, Rómulo, por teres sido outro pai fundador,
agora do saber científico que não te merecia,
escritor de manuais escolares e livros científicos,
que o meu avó e o meu pai e eu (e um dia meu filho) leram.
Saciaste a nosso sede de saber e tudo fizeste para combater a ignorância.

Mas, acima de tudo, António, é a ti que estamos mais agradecidos.
A tua Poesia, clara e científica mas bela e que chegava ao coração,
fez mais por nós do que tu podias pensar.
A tua Poesia é bela como a Física (e a Química, e a Astronomia, e a Biologia...).
Escreveste como um Pintor renascentista pintaria este Mundo.
O teu sarcasmo tudo mostrava, singelo e único, sem artifícios.
E, sendo quem eras, soubeste partilhar connosco as tuas Letras.

Obrigado Rómulo.
Obrigado António...


NOTA: Poema inédito, de Pedro Luna, publicado
originalmente no Blog Geopedrados em 24.11.2005.

SCT 2007 - Tertúlia on-line X


Como está quase a terminar a Semana da Ciência e Tecnologia 2007, não podíamos deixar de recordar o mais famoso poema de Gedeão, que colocámos no post inicial desta série, imortalizado no Zip-Zip por Manuel Freire, aqui num filme muito interessante retirado do YouTube.


SCT 2007 - Tertúlia on-line IX



Publiquei o ano passado no Geopedrados, em post de 21.11.2006, este poema de uma nossa leitora, a Madalena, autora do Blog Pomarão e na altura então com 9 anos. É uma honra pudermos republicar a sua homenagem a Rómulo de Carvalho:

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho

Tem seu pseudónimo
António Gedeão
Nome engraçado
Pois termina em ão!

Poesia escreveu
Com palavras rimou
Algumas profissões escolheu
Um rumo tomou.

Pedra Filosofal
Lágrima de Preta
Seus mais conhecidos poemas
Bonitos de encantar
Muitos o leram
Como ele quiseram rimar.

Investigações fez
Deu-as a Portugal
Nobre país
Sua terra natal.

Importante foi
Rómulo de Carvalho
Em sua honra vamos ler
Estes versos
Em seu centenário.

SCT 2007 - Tertúlia on-line VIII

Aqui fica a surpresa prometida: um filme feito por mim da canção Lágrima de Preta (poesia de António Gedeão), na versão original cantada por Adriano Correia de Oliveira (música de José Niza).


sábado, novembro 24, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line VII



Poema do eterno retorno

Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
se a mesma causa desse sempre o mesmo efeito
e para o mesmo efeito houvesse sempre a mesma causa,
então o meu salgueiro
havia um dia de ressuscitar.

Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
eu próprio,
na efemeridade eternamente repetida
deste momento de agora,
tornaria a rever o meu salgueiro.

Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
os milhões de milhões de milhões de átomos
que compõem os milhões de milhões de milhões de galáxias
dispostos de milhões de milhões de milhões de maneiras diferentes,
teriam forçosamente de repetir,
daqui a milhões de milhões de milhões de séculos,
exactíssimamente a mesma posição que agora têm.

E então,
nesse dia infinitamente longínquo mas finitamente próximo,
eu, Fulano de Tal,
Filho legítimo de Fulano de Tal e de Dona Fulana de Tal,
nascido e baptizado na freguesia de Tal,
a tantos de Tal,
neto paterno de Fulanos de Tal,
e materno de Tal e Tal,
etc. e tal,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
encontrar-me-ia no mesmo ponto do mesmo Universo
a olhar parvamente para o meu salgueiro.

Isto, é claro,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos.

in Novos Poemas Póstumos (1990)

sexta-feira, novembro 23, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line VI



Lição sobre a água


Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

in Linhas de Força - António Gedeão

quarta-feira, novembro 21, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line V



Poema do homem novo

Niels Armstrong pôs os pés na Lua
e a Humanidade saudou nele
o Homem Novo.
No calendário da História sublinhou-se
com espesso traço o memorável feito.

Tudo nele era novo.
Vestia quinze fatos sobrepostos.
Primeiro, sobre a pele, cobrindo-o de alto a baixo,
um colante poroso de rede tricotada
para ventilação e temperatura próprias.
Logo após, outros fatos, e outros e mais outros,
catorze, no total,
de película de nylon
e borracha sintética.
Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés,
na cabeça e nos braços,
confusíssima trama de canais
para circulação dos fluidos necessários,
da água e do oxigénio.

A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento,
um envólucro soprado de tela de alumínio.
Capacete de rosca, de especial fibra de vidro,
auscultadores e microfones,
e, nas mãos penduradas, tentáculos programados,
luvas com luz nos dedos.

Numa cama de rede, pendurada
das paredes do módulo,
na majestade augusta do silêncio,
dormia o Homem Novo a caminho da Lua.

Cá de longe, na Terra, num borborinho ansioso,
bocas de espanto e olhos de humidade,
todos se interpelavam e falava,
do Homem Novo,
do Homem Novo,
do Homem Novo.

Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés.
caminhava hesitante e cauteloso,
pé aqui,
pé ali,
as pernas afastadas,
os braços insuflados como balões pneumáticos,
o tronco debruçado sobre o solo.

Lá vai ele.
Lá vai o Homem Novo
medindo e calculando cada passo,
puxando pelo corpo como bloco emperrado.
Mais um passo.
Mais outro.

Num sobre-humano esforço
levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela.
com redobrado alento avança mais um passo,
e a Humanidade inteira, com o coração pequeno e ressequido
viu, com os olhos que a terra há-de comer,
o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua, a bandeira da sua Pátria,
exactamente como faria o Homem Velho.

in Novos Poemas Póstumos (1990)

Novo CD Duplo do Fausto!

Fausto regressa com colectânea em duplo CD

Ausente das edições discográficas desde 2003, ano de «Ópera Mágica do Cantor Maldito», Fausto regressa esta segunda-feira com um CD duplo - «18 Canções de Amor e Mais Uma de Ressentido Protesto». Trata-se de um disco que o cantor e compositor contou a Mário Dias.

in TSF-Online - ver notícia



18 Canções de Amor e Mais Uma de Ressentido Protesto:

CD 1
01. Foi Por Ela
02. Namoro
03. Rosalinda
04. Já Foste Linda Rosa
05. A Ouro e Prata
06. Porque Me Olhas Assim
07. Em Poucas Palavras
08. Corações Sentidos Corações
09. Todo Este Céu

CD 2
01. E Tão Só O Verde Dos Teus Olhos
02. A Explicação das Flores
03. Eu Tenho Um Fraquinho Por Ti
04. Apenas
05. Carta de Paris
06. Porque Não Me Vês
07. Um Outro Olhar Sobre Caxias
08. A Tua Presença
09. O Que a Vida Me Deu
10. Carta de Um Contratado

Fonte: SonyBMG

Nota: As canções seguidas do símbolo de som podem ser ouvidas no site da SonyBMG antes referido.

SCT 2007 - Tertúlia on-line IV



Poema para Galileo


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,

aquele teu retrato que toda a gente conhece,

em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce

sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.

(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.

Disse Galeria dos Ofícios.)

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.



Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…

Eu sei… eu sei…

As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.

Ai que saudade, Galileo Galilei!



Olha. Sabes? Lá em Florença

está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.

Palavra de honra que está!

As voltas que o mundo dá!

Se calhar até há gente que pensa

que entraste no calendário.



Eu queria agradecer-te, Galileo,

a inteligência das coisas que me deste.

Eu,

e quantos milhões de homens como eu

a quem tu esclareceste,

ia jurar- que disparate, Galileo!

- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça

sem a menor hesitação-

que os corpos caem tanto mais depressa

quanto mais pesados são.



Pois não é evidente, Galileo?

Quem acredita que um penedo caia

com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?

Esta era a inteligência que Deus nos deu.



Estava agora a lembrar-me, Galileo,

daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo

e tinhas à tua frente

um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo

a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,

que parecia impossível que um homem da tua idade

e da tua condição,

se tivesse tornado num perigo

para a Humanidade

e para a Civilização.

Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,

e percorrias, cheio de piedade,

os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.



Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,

desceram lá das suas alturas

e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,

nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual

conforme suas eminências desejavam,

e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal

e que os astros bailavam e entoavam

à meia-noite louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias

nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,

aquelas abomináveis heresias

que ensinavas e descrevias

para eterna perdição da tua alma.

Ai Galileo!

Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo

que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,

andavam a correr e a rolar pelos espaços

à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileo Galilei.



Por isso eram teus olhos misericordiosos,

por isso era teu coração cheio de piedade,

piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos

a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso estoicamente, mansamente,

resististe a todas as torturas,

a todas as angústias, a todos os contratempos,

enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,

foram caindo,

caindo,

caindo,

caindo,

caindo sempre,

e sempre,

ininterruptamente,

na razão directa do quadrado dos tempos.

terça-feira, novembro 20, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line III

Semana da Ciência e Tecnologia 2007 - Tertúlia on-line II


Rómulo Vasco da Gama de Carvalho/António Gedeão
(Lisboa, 24.11.1906 - Lisboa, 17.02.1997)


Filho de um funcionário dos correios e telégrafos e de uma dona de casa, Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906 na lisboeta freguesia da Sé. Aí cresceu, juntamente com as irmãs, numa casa modesta da rua do Arco do Limoeiro (hoje rua Augusto Rosa), no seio de um ambiente familiar tranquilo, profundamente marcado pela figura materna, cuja influência foi decisiva para a sua vida.

Na verdade, a sua mãe, apesar de contar somente com a instrução primária, tinha como grande paixão a literatura, sentimento que transmitiu ao filho Rómulo, assim baptizado em honra do protagonista de um drama lido num folhetim de jornal. Responsável por uma certa atmosfera literária que se vivia em sua casa, é ela que, através dos livros comprados em fascículos, vendidos semanalmente pelas casas, ou, mais tarde, requisitados nas livrarias Portugália ou Morais, inicia o filho na arte das palavras. Desta forma Rómulo toma contacto com os mestres - Camões, Eça, Camilo e Cesário Verde, o preferido - e conhece As Mil e Uma Noites, obra que viria a considerar uma da suas bíblias.

Criança precoce, aos 5 anos escreve os primeiros poemas e aos 10 decide completar "Os Lusíadas" de Camões. No entanto, a par desta inclinação flagrante para as letras, quando, ao entrar para o liceu Gil Vicente, toma pela primeira vez contacto com as ciências, desperta nele um novo interesse, que se vai intensificando com o passar dos anos e se torna predominante no seu último ano de liceu.

Este factor será decisivo para a escolha do caminho a tomar no ano seguinte, aquando da entrada na Universidade, pois, embora a literatura o tenha acompanhado durante toda a sua vida, não se mostrava a melhor escolha para quem, além de procurar estabilidade, era extremamente pragmático e se sentia atraído pelas ciências justamente pelo seu lado experimental. Desta forma, a escolha da área das ciências, apesar de não ter sido fácil, dá-se.

E assim, enquanto Rómulo de Carvalho estuda Ciências Fisico-Químicas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, as palavras ficam guardadas para quando, mais tarde, surgir alguém que dará pelo nome de António Gedeão.

Em 1932, um ano depois de se ter licenciado, forma-se em ciências pedagógicas na faculdade de letras da cidade invicta, prenunciando assim qual será a sua actividade principal daí para a frente e durante 40 anos - professor e pedagogo.

Começando por estagiar no Liceu Pedro Nunes e ensinar durante 14 anos no Liceu Camões, Rómulo de Carvalho é, depois, convidado a ir leccionar para o liceu D. João III, em Coimbra, permanecendo aí até, passados oito anos, regressar a Lisboa, convidado para professor metodólogo do grupo de Físico-Químicas do Liceu Pedro Nunes.

Exigente, comunicador por excelência, para Rómulo de Carvalho ensinar era uma paixão. Tal como afirmava sem hesitar, ser Professor tem de ser uma paixão - pode ser uma paixão fria mas tem de ser uma paixão. Uma dedicação. E assim, além da colaboração como co-director da "Gazeta de Física" a partir de 1946, concentra, durante muitos anos, os seus esforços no ensino, dedicando-se, inclusivé, à elaboração de compêndios escolares, inovadores pelo grafismo e forma de abordar matérias tão complexas como a física e a química. Dedicação estendida, a partir de 1952, à difusão científica a um nível mais amplo através da colecção Ciência Para Gente Nova e muitos outros títulos, entre os quais Física para o Povo, cujas edições acompanham os leigos interessados pela ciência até meados da década de 1970. A divulgação científica surge como puro prazer - agrada-lhe comunicar, por escrito e com um carácter mais amplo, aquilo que, enquanto professor, comunicava pela palavra.

A dedicação à ciência e à sua divulgação e história não fica por aqui, sendo uma constante durante toda a sua a vida. De facto, Rómulo de Carvalho não parou de trabalhar até ao fim dos seus dias, deixando, inclusive trabalhos concluídos, mas por publicar, que por certo vêm engrandecer, ainda mais, a sua extensa obra científica.

Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho não esquece a arte das palavras e continua, sempre, a escrever poesia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que nunca será útil a ninguém, nunca tenta publicá-la, preferindo destruí-la.

Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publica, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas Movimento Perpétuo. No entanto, o livro surge como tendo sido escrito por outro, António Gedeão, e o professor de física e química, Rómulo de Carvalho, permanece no anonimato a que se votou.

O livro é bem recebido pela crítica e António Gedeão continua a publicar poesia, aventurando-se, anos mais tarde, no teatro e,depois, no ensaio e na ficção.

A obra de Gedeão é um enigma para os críticos, pois além de surgir, estranhamente, só quando o seu autor tem 50 anos de idade, não se enquadra claramente em qualquer movimento literário. Contudo o seu enquadramento geracional leva-o a preocupar-se com os problemas comuns da sociedade portuguesa, da época.

Nos seus poemas dá-se uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. Aí reside a sua originalidade, difícil de catalogar, originada por uma vida em que sempre coexistiram dois interesses totalmente distintos, mas que, para Rómulo de Carvalho e para o seu "amigo" Gedeão, provinham da mesma fonte e completavam-se mutuamente.

A poesia de Gedeão é, realmente, comunicativa e marca toda uma geração que, reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra, cujo fim não se adivinhava, se sentia profundamente tocada pelos valores expressos pelo poeta e assim se atrevia a acreditar que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade. É deste modo que "Pedra Filosofal", musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho.E, mais tarde, em 1972, José Nisa compõe doze músicas com base em poemas de Gedeão e produz o álbum "Fala do Homem Nascido".

O professor Rómulo de Carvalho, entretanto,após 40 anos de ensino,em 1974, motivado em parte pela desorganização e falta de autoridade que depois do 25 de Abril tomou conta do ensino em Portugal decide reformar-se. Exigente e rigoroso, não se conforma com a situação. Nessa altura é convidado para leccionar na Universidade mas declina o convite.

Incapaz de ficar parado, nos anos seguintes dedica-se por inteiro à investigação publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Gedeão também continua a sonhar, mas o fim aproxima-se e o desejo da morrer determina, em 1984, a publicação de Poemas Póstumos.

Em 1990, já com 83 anos, Rómulo de Carvalho assume a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, sete anos depois de se ter tornado sócio correspondente da Academia de Ciências, função que desempenhará até ao fim dos seus dias.

Quando completa 90 anos de idade, a sua vida é alvo de uma homenagem a nível nacional. O professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta, é reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música.

Infelizmente, a 19 de Fevereiro de 1997 a morte leva-nos Rómulo de Carvalho. Gedeão, esse já tinha morrido alguns anos antes, aquando da publicação de Poemas Póstumos e Novos Poemas Póstumos.

Avesso a mostrar-se, recolhido, discreto, muito calmo, mas ao mesmo tempo algo distante, homem de saberes múltiplos e de humor subtil, Rómulo de Carvalho que nunca teve pressa, mas em vida tanto fez, deixa, em morte, uma saudade imensa da parte de todos quantos o conheceram e à sua obra.

in http://www.citi.pt/

Caricatura in Blog Desenhos do Rui

segunda-feira, novembro 19, 2007

Semana da Ciência e Tecnologia 2007 - Tertúlia on-line I


Tertúlia On-Line de Comemoração da Semana da Ciência e Tecnologia e do Aniversário do Nascimento de Rómulo de Carvalho

Na semana em que se comemoram os 101 anos do nascimento de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, nome do cientista e pedagogo também conhecido pelo pseudónimo literário de António Gedeão, o Blog associa-se às comemorações da Semana da Ciência e Tecnologia e do Dia Nacional da Cultura Científica, promovidas pela Ciência Viva, através da divulgação de alguma poesia deste autor.



Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral
pináculo de catedral
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo de Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Columbina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

in Movimento Perpétuo, 1956