sexta-feira, novembro 30, 2007

Cantando e Rindo, a cantiga é uma arma

Do insuspeito Blog Grande Loja do Queijo Limiano publicamos o seguinte post, por causa das referências ao cantor Fausto, datado do de 07.09.2007:


Em Portugal, desde finais dos anos sessenta e até aos anos oitenta, a música popular, no seu maior espectro sonoro, cantou-se e tocou-se à esquerda e então virou-se o disco e cantou-se o mesmo, mas em coro com as editoras internacionais, que desconhecem outra cor política que não a do lucro. Trovante, Rui Veloso, UHF, Xutos e Pontapés, Delfins, e outros que se lhes seguiram, não apagam a imagem sonora dos anos precedentes.

Em 1974, Uma Gaivota voava, voava, num mar de rosas encarnadas e cravos de ocasião, pela voz esquecida de uma Ermelinda Duarte.

Nesse mesmo ano, a explosão de música popular dos cantores de intervenção, avassalou todas as ondas de rádio disponíveis e fixou músicas que se tornaram standards.

José Afonso, cantava a toda a hora, não só a Grândola Vila Morena, como as músicas antigas dos álbuns dos anos setenta, com destaque para o Venham mais cinco e a Formiga no Carreiro. José Mário Branco entoava a Ronda do soldadinho que não se pudera ouvir anteriormente e contava a história de uma mãe e dos seus dois filhos.

A par de José Afonso, José Mário Branco, Fausto, Sérgio Godinho, José Jorge Letria, Luís Cília, GAC-Vozes na Luta, Francisco Fanhais, outros apareceram na onda de Manuel Freire e do sonho que comandava a vida desde o final dos anos sessenta.

Em 1970, os nomes sonantes no panorama musical de qualidade mínima, já são os mesmos de sempre: Manuel Freire a cantar Gedeão, os discos Movieplay a editar Nuno Filipe a trinar a Cantiga da Manhã e José Afonso com a canção de embalar. Com a chegada do Tempo Zip, na sequência do programa televisivo, aparecem Nuno Martins, Fernando Lopes, Joaquim Letria, Thilo Krassman, Urbano Tavares Rodrigues, para além do trio de fundadores e apresentadores do programa, Carlos Cruz, Raul Solnado e Fialho Gouveia.


Nesse tempo de zips, a toada geral da música portuguesa, soava à esquerda, mesmo nos festivais nacionais da canção, durante alguns anos menosprezados pelos promotores dos baladeiros e autores das letras das suas canções. Um deles, apresentador de rádio, João Paulo Guerra, definiu essas canções festivaleiras, protagonizadas nos anos sessenta por nomes como António Calvário, António Mourão, Madalena Iglésias, mesmo Paco Bandeira, como “nacional-cançonetismo”.

Seja como for, no início dos anos setenta, logo em 1971, as principais canções colocadas nos primeiros lugares, deviam tudo a autores de esquerda. José Carlos Ary dos Santos, comunista, era autor de várias letras, como o Cavalo à solta, cantado por Fernando Tordo que cantou depois a Tourada.

Foi nessa altura que ocorreu em Portugal o acontecimento da década, em matéria musical: o festival de Vilar de Mouros, em Julho-Agosto de 1971, no qual estiveram presentes Elton John e Manfred Mann e pelas cores nacionais uma série de grupos rock, de imitação da batida lá de fora, como os Psico, Sindicato, Pentágono com Paulo de Carvalho, Quarteto 1111, de José Cid, Objectivo, Pop Five music incorporated ( estes títulos!) e outros, como os Celos de Barcelos que levaram uma assobiadela monumental.

Ary dos Santos, fazia letras para músicas de Nuno Nazareth Fernandes e músicos como Pedro Osório e depois José Niza, durante anos a fio, concorreram ao Festival da Canção. Em 1970, Paulo de Carvalho, com Corre Nina; Fernando Tordo, com Escrevo às cidades; o Quarteto Intróito, com Verdes Trigais e Hugo Maia de Loureiro,com Canção de Madrugar, disputaram o primeiro lugar a um desconhecido Sérgio Borges, com Onde vais rio que eu canto que ganhou na votação popular dos representantes dos distritos nacionais. No ano seguinte, a vencedora Menina, interpretada por Tonicha, teve a concorrer, Paulo de Carvalho e Flor sem tempo ( a minha preferida ), Fernando Tordo e Cavalo à solta, (uma das preferidas); Hugo Maia de Loureiro e Crónica de um dia ( uma belíssima canção) e ainda a verdíssima Daphne e Verde Pino e Intróito dos Verdes Trigais e um EFE 5 com Rosa Roseira. Diga-se que na época, a vencedora Tonicha e a sua Menina, foram assimiladas pela bem-pensadoria da Esquerda, um perfeito exemplo do nacional-cançonetismo e disseram-no livremente, ao Mundo da Canção da época. A crítica das canções concorrentes, feita no Mundo da Canção, é exemplar do espírito do tempo. Sobre a canção de Paulo de Carvalho, Flor sem tempo, escrevia o crítico Fernando Cordeiro:"claro que havia Paulo de Carvalho e toda a gigantesca máquina publicitária levantada pela Movieplay e que chegaram resolutamente a ser apontados de possíveis vencedores. (...)Mas a promoção foi demasiado gritada, quase agressiva, primitiva, em suma. E a própria canção não ajudou muito. Musicalmente incipiente (estrutura harmónica monolítica, que é como quem diz limitada, pobre, mesmo em variedade e variações; de líricas." Resta dizer que a canção vencedora, Menina, era editada pelas produções Zip Zip, outra das majors da época

Torna-se interessante, ler o que diziam os diversos músicos e intérpretes, no tempo de um "fascismo" em que havia censura e segundo o seu particular relato histórico, havia uma mão férrea sobre o direito de exprimir opinião. Na Mundo da Canção, isenta de exame prévio até muito mais tarde, segundo confissão dos seus mentores, era notória a liberdade de expressão sobre gostos musicais e de tendência. Ary dos Santos, uma das figuras de proa dos letristas de música popular, nem falava sobre o festival, apesar de assinar várias letras de canções.

A par desses nomes que se repetiram durante anos a fio, pouca gente ouvia falar e muito menos ouvia a música da Filarmónica Fraude e depois, no final de 1973, da Banda do Casaco. Como não se deu importância mediática à música de Luís Rego que no início dos setenta, gravou em França um single fora de série, com a canção Amor Novo. Ou ainda a um espantoso LP de José Almada de 1970, com músicas e líricas fora de tempo e que ainda hoje se pode ouvir como uma pequena maravilha de composição, a par dos melhores discos de sempre, da música popular portuguesa.

E fora dos circuitos de bem-pensantes, e das referências na imprensa, havia o fado. E as canções de grupos como o Conjunto Maria Albertina, Duo Ouro Negro, o conjunto António Mafra do eram p´raí sete e pico e outros êxitos do género da Igreja toda iluminada, do Trio Odemira. Estes contavam para os espectáculos em “serões para trabalhadores”, da FNAT e em romarias populares, num tempo em que ainda nem havia cassetes, mas singles em 45 rtm, e que não se ouviam nos lugares dos progressistas da canção e da cançoneta. Marco Paulo viria depois, com os seus Dois amores e durou até aos anos oitenta ou um pouco mais.

Nessa altura porém, o panorama que o Sete apresentava ao público leitor, era outro, como se evidencia por esta imagem do jornal de 29.12.1982.

Em 26 de Fevereiro de 2000, o Diário de Noticias, pelas teclas dos especialistas do DNMais, elencava os 100 mais da música popular portuguesa. Os primeiros dez, são, por ordem decrescente:

José Afonso e Venham mais cinco, de 1973.

Amália Rodrigues e Com que voz, de 1970.

Carlos Paredes e Movimento perpétuo, de 1971

António Variações e Anjo da Guarda, de 1983.

Sérgio Godinho e Pano Cru, de 1978.

Rui Veloso e Ar de Rock, de 1980.

José Mário Branco e Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de 1971.

Pedro Abrunhosa e Viagens, de 1994.

Fausto, Por este rio acima, de 1982.

Madredeus, O espírito da paz, de 1994.

Quem disser que a Esquerda está mal representada ou que se equilibram as ideias do espectro político no campo musical, não está a ver bem o panorama ou não escutou esta banda sonora.


Imagens: de Vilar de Mouros, do livro Vilar de Mouros de Fernando Zamith, edições Afrontamento, 2003; Mundo da Canção, números de 1971 e 72 e do jornal Sete.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Fausto - 59 anos!


Faz hoje 59 anos que Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias, mais conhecido por Fausto, nasceu em Vila Franca das Naves. Um dos melhores cantores de sempre da música de Portugal (e também um excelente compositor, criador de poesia para ser cantada, director musical, ente outros) merece o nossos sinceros parabéns...!

É pena é que não tenha ainda sido atribuído o seu nome a uma Rua na nossa terra (eu sei que se decidiu que só os mortos merecem ter nome na nossa toponímia, mas esta poderia ser uma boa excepção para a regra...). E se não querem que exista uma Rua Carlos Fausto Bordalo Gomes Dias (ou, simplesmente, Rua Cantor Fausto) há sempre hipótese de o homenagearem criando uma rua com o nome da mãe, Alice Bordalo Martins, ilustre professora dos anos quarenta na nossa terra (mais exactamente na Estação, dando aulas por baixo da actual casa de habitação do Sr. António Tibúrcio Lopes) e que já aqui foi alvo de um post...


PARABÉNS FAUSTO!

domingo, novembro 25, 2007

António Rómulo Gedeão de Carvalho...



SCT 2007 - Tertúlia on-line XI

O último Alquimista

Era uma vez um Cientista com alma de Poeta.

Era um Senhor (muito sério) com uma vontade juvenil de escrever.
Era um Professor (um Mestre) que era trocista sem saber.
Era um Anarquista com regras e vontades...

Obrigado, Rómulo, por teres sido outro pai fundador,
agora do saber científico que não te merecia,
escritor de manuais escolares e livros científicos,
que o meu avó e o meu pai e eu (e um dia meu filho) leram.
Saciaste a nosso sede de saber e tudo fizeste para combater a ignorância.

Mas, acima de tudo, António, é a ti que estamos mais agradecidos.
A tua Poesia, clara e científica mas bela e que chegava ao coração,
fez mais por nós do que tu podias pensar.
A tua Poesia é bela como a Física (e a Química, e a Astronomia, e a Biologia...).
Escreveste como um Pintor renascentista pintaria este Mundo.
O teu sarcasmo tudo mostrava, singelo e único, sem artifícios.
E, sendo quem eras, soubeste partilhar connosco as tuas Letras.

Obrigado Rómulo.
Obrigado António...


NOTA: Poema inédito, de Pedro Luna, publicado
originalmente no Blog Geopedrados em 24.11.2005.

SCT 2007 - Tertúlia on-line X


Como está quase a terminar a Semana da Ciência e Tecnologia 2007, não podíamos deixar de recordar o mais famoso poema de Gedeão, que colocámos no post inicial desta série, imortalizado no Zip-Zip por Manuel Freire, aqui num filme muito interessante retirado do YouTube.


SCT 2007 - Tertúlia on-line IX



Publiquei o ano passado no Geopedrados, em post de 21.11.2006, este poema de uma nossa leitora, a Madalena, autora do Blog Pomarão e na altura então com 9 anos. É uma honra pudermos republicar a sua homenagem a Rómulo de Carvalho:

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho

Tem seu pseudónimo
António Gedeão
Nome engraçado
Pois termina em ão!

Poesia escreveu
Com palavras rimou
Algumas profissões escolheu
Um rumo tomou.

Pedra Filosofal
Lágrima de Preta
Seus mais conhecidos poemas
Bonitos de encantar
Muitos o leram
Como ele quiseram rimar.

Investigações fez
Deu-as a Portugal
Nobre país
Sua terra natal.

Importante foi
Rómulo de Carvalho
Em sua honra vamos ler
Estes versos
Em seu centenário.

SCT 2007 - Tertúlia on-line VIII

Aqui fica a surpresa prometida: um filme feito por mim da canção Lágrima de Preta (poesia de António Gedeão), na versão original cantada por Adriano Correia de Oliveira (música de José Niza).


sábado, novembro 24, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line VII



Poema do eterno retorno

Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
se a mesma causa desse sempre o mesmo efeito
e para o mesmo efeito houvesse sempre a mesma causa,
então o meu salgueiro
havia um dia de ressuscitar.

Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
eu próprio,
na efemeridade eternamente repetida
deste momento de agora,
tornaria a rever o meu salgueiro.

Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
os milhões de milhões de milhões de átomos
que compõem os milhões de milhões de milhões de galáxias
dispostos de milhões de milhões de milhões de maneiras diferentes,
teriam forçosamente de repetir,
daqui a milhões de milhões de milhões de séculos,
exactíssimamente a mesma posição que agora têm.

E então,
nesse dia infinitamente longínquo mas finitamente próximo,
eu, Fulano de Tal,
Filho legítimo de Fulano de Tal e de Dona Fulana de Tal,
nascido e baptizado na freguesia de Tal,
a tantos de Tal,
neto paterno de Fulanos de Tal,
e materno de Tal e Tal,
etc. e tal,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
encontrar-me-ia no mesmo ponto do mesmo Universo
a olhar parvamente para o meu salgueiro.

Isto, é claro,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos.

in Novos Poemas Póstumos (1990)

sexta-feira, novembro 23, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line VI



Lição sobre a água


Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.

in Linhas de Força - António Gedeão

quarta-feira, novembro 21, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line V



Poema do homem novo

Niels Armstrong pôs os pés na Lua
e a Humanidade saudou nele
o Homem Novo.
No calendário da História sublinhou-se
com espesso traço o memorável feito.

Tudo nele era novo.
Vestia quinze fatos sobrepostos.
Primeiro, sobre a pele, cobrindo-o de alto a baixo,
um colante poroso de rede tricotada
para ventilação e temperatura próprias.
Logo após, outros fatos, e outros e mais outros,
catorze, no total,
de película de nylon
e borracha sintética.
Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés,
na cabeça e nos braços,
confusíssima trama de canais
para circulação dos fluidos necessários,
da água e do oxigénio.

A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento,
um envólucro soprado de tela de alumínio.
Capacete de rosca, de especial fibra de vidro,
auscultadores e microfones,
e, nas mãos penduradas, tentáculos programados,
luvas com luz nos dedos.

Numa cama de rede, pendurada
das paredes do módulo,
na majestade augusta do silêncio,
dormia o Homem Novo a caminho da Lua.

Cá de longe, na Terra, num borborinho ansioso,
bocas de espanto e olhos de humidade,
todos se interpelavam e falava,
do Homem Novo,
do Homem Novo,
do Homem Novo.

Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés.
caminhava hesitante e cauteloso,
pé aqui,
pé ali,
as pernas afastadas,
os braços insuflados como balões pneumáticos,
o tronco debruçado sobre o solo.

Lá vai ele.
Lá vai o Homem Novo
medindo e calculando cada passo,
puxando pelo corpo como bloco emperrado.
Mais um passo.
Mais outro.

Num sobre-humano esforço
levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela.
com redobrado alento avança mais um passo,
e a Humanidade inteira, com o coração pequeno e ressequido
viu, com os olhos que a terra há-de comer,
o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua, a bandeira da sua Pátria,
exactamente como faria o Homem Velho.

in Novos Poemas Póstumos (1990)

Novo CD Duplo do Fausto!

Fausto regressa com colectânea em duplo CD

Ausente das edições discográficas desde 2003, ano de «Ópera Mágica do Cantor Maldito», Fausto regressa esta segunda-feira com um CD duplo - «18 Canções de Amor e Mais Uma de Ressentido Protesto». Trata-se de um disco que o cantor e compositor contou a Mário Dias.

in TSF-Online - ver notícia



18 Canções de Amor e Mais Uma de Ressentido Protesto:

CD 1
01. Foi Por Ela
02. Namoro
03. Rosalinda
04. Já Foste Linda Rosa
05. A Ouro e Prata
06. Porque Me Olhas Assim
07. Em Poucas Palavras
08. Corações Sentidos Corações
09. Todo Este Céu

CD 2
01. E Tão Só O Verde Dos Teus Olhos
02. A Explicação das Flores
03. Eu Tenho Um Fraquinho Por Ti
04. Apenas
05. Carta de Paris
06. Porque Não Me Vês
07. Um Outro Olhar Sobre Caxias
08. A Tua Presença
09. O Que a Vida Me Deu
10. Carta de Um Contratado

Fonte: SonyBMG

Nota: As canções seguidas do símbolo de som podem ser ouvidas no site da SonyBMG antes referido.

SCT 2007 - Tertúlia on-line IV



Poema para Galileo


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,

aquele teu retrato que toda a gente conhece,

em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce

sobre um modesto cabeção de pano.

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.

(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.

Disse Galeria dos Ofícios.)

Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.



Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…

Eu sei… eu sei…

As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.

Ai que saudade, Galileo Galilei!



Olha. Sabes? Lá em Florença

está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.

Palavra de honra que está!

As voltas que o mundo dá!

Se calhar até há gente que pensa

que entraste no calendário.



Eu queria agradecer-te, Galileo,

a inteligência das coisas que me deste.

Eu,

e quantos milhões de homens como eu

a quem tu esclareceste,

ia jurar- que disparate, Galileo!

- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça

sem a menor hesitação-

que os corpos caem tanto mais depressa

quanto mais pesados são.



Pois não é evidente, Galileo?

Quem acredita que um penedo caia

com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?

Esta era a inteligência que Deus nos deu.



Estava agora a lembrar-me, Galileo,

daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo

e tinhas à tua frente

um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo

a olharem-te severamente.

Estavam todos a ralhar contigo,

que parecia impossível que um homem da tua idade

e da tua condição,

se tivesse tornado num perigo

para a Humanidade

e para a Civilização.

Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,

e percorrias, cheio de piedade,

os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.



Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,

desceram lá das suas alturas

e poisaram, como aves aturdidas- parece-me que estou a vê-las -,

nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.

E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual

conforme suas eminências desejavam,

e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal

e que os astros bailavam e entoavam

à meia-noite louvores à harmonia universal.

E juraste que nunca mais repetirias

nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,

aquelas abomináveis heresias

que ensinavas e descrevias

para eterna perdição da tua alma.

Ai Galileo!

Mal sabem os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo

que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,

andavam a correr e a rolar pelos espaços

à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileo Galilei.



Por isso eram teus olhos misericordiosos,

por isso era teu coração cheio de piedade,

piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos

a quem Deus dispensou de buscar a verdade.

Por isso estoicamente, mansamente,

resististe a todas as torturas,

a todas as angústias, a todos os contratempos,

enquanto eles, do alto incessível das suas alturas,

foram caindo,

caindo,

caindo,

caindo,

caindo sempre,

e sempre,

ininterruptamente,

na razão directa do quadrado dos tempos.

terça-feira, novembro 20, 2007

SCT 2007 - Tertúlia on-line III

Semana da Ciência e Tecnologia 2007 - Tertúlia on-line II


Rómulo Vasco da Gama de Carvalho/António Gedeão
(Lisboa, 24.11.1906 - Lisboa, 17.02.1997)


Filho de um funcionário dos correios e telégrafos e de uma dona de casa, Rómulo Vasco da Gama de Carvalho nasceu a 24 de Novembro de 1906 na lisboeta freguesia da Sé. Aí cresceu, juntamente com as irmãs, numa casa modesta da rua do Arco do Limoeiro (hoje rua Augusto Rosa), no seio de um ambiente familiar tranquilo, profundamente marcado pela figura materna, cuja influência foi decisiva para a sua vida.

Na verdade, a sua mãe, apesar de contar somente com a instrução primária, tinha como grande paixão a literatura, sentimento que transmitiu ao filho Rómulo, assim baptizado em honra do protagonista de um drama lido num folhetim de jornal. Responsável por uma certa atmosfera literária que se vivia em sua casa, é ela que, através dos livros comprados em fascículos, vendidos semanalmente pelas casas, ou, mais tarde, requisitados nas livrarias Portugália ou Morais, inicia o filho na arte das palavras. Desta forma Rómulo toma contacto com os mestres - Camões, Eça, Camilo e Cesário Verde, o preferido - e conhece As Mil e Uma Noites, obra que viria a considerar uma da suas bíblias.

Criança precoce, aos 5 anos escreve os primeiros poemas e aos 10 decide completar "Os Lusíadas" de Camões. No entanto, a par desta inclinação flagrante para as letras, quando, ao entrar para o liceu Gil Vicente, toma pela primeira vez contacto com as ciências, desperta nele um novo interesse, que se vai intensificando com o passar dos anos e se torna predominante no seu último ano de liceu.

Este factor será decisivo para a escolha do caminho a tomar no ano seguinte, aquando da entrada na Universidade, pois, embora a literatura o tenha acompanhado durante toda a sua vida, não se mostrava a melhor escolha para quem, além de procurar estabilidade, era extremamente pragmático e se sentia atraído pelas ciências justamente pelo seu lado experimental. Desta forma, a escolha da área das ciências, apesar de não ter sido fácil, dá-se.

E assim, enquanto Rómulo de Carvalho estuda Ciências Fisico-Químicas na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, as palavras ficam guardadas para quando, mais tarde, surgir alguém que dará pelo nome de António Gedeão.

Em 1932, um ano depois de se ter licenciado, forma-se em ciências pedagógicas na faculdade de letras da cidade invicta, prenunciando assim qual será a sua actividade principal daí para a frente e durante 40 anos - professor e pedagogo.

Começando por estagiar no Liceu Pedro Nunes e ensinar durante 14 anos no Liceu Camões, Rómulo de Carvalho é, depois, convidado a ir leccionar para o liceu D. João III, em Coimbra, permanecendo aí até, passados oito anos, regressar a Lisboa, convidado para professor metodólogo do grupo de Físico-Químicas do Liceu Pedro Nunes.

Exigente, comunicador por excelência, para Rómulo de Carvalho ensinar era uma paixão. Tal como afirmava sem hesitar, ser Professor tem de ser uma paixão - pode ser uma paixão fria mas tem de ser uma paixão. Uma dedicação. E assim, além da colaboração como co-director da "Gazeta de Física" a partir de 1946, concentra, durante muitos anos, os seus esforços no ensino, dedicando-se, inclusivé, à elaboração de compêndios escolares, inovadores pelo grafismo e forma de abordar matérias tão complexas como a física e a química. Dedicação estendida, a partir de 1952, à difusão científica a um nível mais amplo através da colecção Ciência Para Gente Nova e muitos outros títulos, entre os quais Física para o Povo, cujas edições acompanham os leigos interessados pela ciência até meados da década de 1970. A divulgação científica surge como puro prazer - agrada-lhe comunicar, por escrito e com um carácter mais amplo, aquilo que, enquanto professor, comunicava pela palavra.

A dedicação à ciência e à sua divulgação e história não fica por aqui, sendo uma constante durante toda a sua a vida. De facto, Rómulo de Carvalho não parou de trabalhar até ao fim dos seus dias, deixando, inclusive trabalhos concluídos, mas por publicar, que por certo vêm engrandecer, ainda mais, a sua extensa obra científica.

Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho não esquece a arte das palavras e continua, sempre, a escrever poesia. Porém, não a considerando de qualidade e pensando que nunca será útil a ninguém, nunca tenta publicá-la, preferindo destruí-la.

Só em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publica, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas Movimento Perpétuo. No entanto, o livro surge como tendo sido escrito por outro, António Gedeão, e o professor de física e química, Rómulo de Carvalho, permanece no anonimato a que se votou.

O livro é bem recebido pela crítica e António Gedeão continua a publicar poesia, aventurando-se, anos mais tarde, no teatro e,depois, no ensaio e na ficção.

A obra de Gedeão é um enigma para os críticos, pois além de surgir, estranhamente, só quando o seu autor tem 50 anos de idade, não se enquadra claramente em qualquer movimento literário. Contudo o seu enquadramento geracional leva-o a preocupar-se com os problemas comuns da sociedade portuguesa, da época.

Nos seus poemas dá-se uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança. Aí reside a sua originalidade, difícil de catalogar, originada por uma vida em que sempre coexistiram dois interesses totalmente distintos, mas que, para Rómulo de Carvalho e para o seu "amigo" Gedeão, provinham da mesma fonte e completavam-se mutuamente.

A poesia de Gedeão é, realmente, comunicativa e marca toda uma geração que, reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra, cujo fim não se adivinhava, se sentia profundamente tocada pelos valores expressos pelo poeta e assim se atrevia a acreditar que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade. É deste modo que "Pedra Filosofal", musicada por Manuel Freire, se torna num hino à liberdade e ao sonho.E, mais tarde, em 1972, José Nisa compõe doze músicas com base em poemas de Gedeão e produz o álbum "Fala do Homem Nascido".

O professor Rómulo de Carvalho, entretanto,após 40 anos de ensino,em 1974, motivado em parte pela desorganização e falta de autoridade que depois do 25 de Abril tomou conta do ensino em Portugal decide reformar-se. Exigente e rigoroso, não se conforma com a situação. Nessa altura é convidado para leccionar na Universidade mas declina o convite.

Incapaz de ficar parado, nos anos seguintes dedica-se por inteiro à investigação publicando numerosos livros, tanto de divulgação científica, como de história da ciência. Gedeão também continua a sonhar, mas o fim aproxima-se e o desejo da morrer determina, em 1984, a publicação de Poemas Póstumos.

Em 1990, já com 83 anos, Rómulo de Carvalho assume a direcção do Museu Maynense da Academia das Ciências de Lisboa, sete anos depois de se ter tornado sócio correspondente da Academia de Ciências, função que desempenhará até ao fim dos seus dias.

Quando completa 90 anos de idade, a sua vida é alvo de uma homenagem a nível nacional. O professor, investigador, pedagogo e historiador da ciência, bem como o poeta, é reconhecido publicamente por personalidades da política, da ciência, das letras e da música.

Infelizmente, a 19 de Fevereiro de 1997 a morte leva-nos Rómulo de Carvalho. Gedeão, esse já tinha morrido alguns anos antes, aquando da publicação de Poemas Póstumos e Novos Poemas Póstumos.

Avesso a mostrar-se, recolhido, discreto, muito calmo, mas ao mesmo tempo algo distante, homem de saberes múltiplos e de humor subtil, Rómulo de Carvalho que nunca teve pressa, mas em vida tanto fez, deixa, em morte, uma saudade imensa da parte de todos quantos o conheceram e à sua obra.

in http://www.citi.pt/

Caricatura in Blog Desenhos do Rui

segunda-feira, novembro 19, 2007

Semana da Ciência e Tecnologia 2007 - Tertúlia on-line I


Tertúlia On-Line de Comemoração da Semana da Ciência e Tecnologia e do Aniversário do Nascimento de Rómulo de Carvalho

Na semana em que se comemoram os 101 anos do nascimento de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, nome do cientista e pedagogo também conhecido pelo pseudónimo literário de António Gedeão, o Blog associa-se às comemorações da Semana da Ciência e Tecnologia e do Dia Nacional da Cultura Científica, promovidas pela Ciência Viva, através da divulgação de alguma poesia deste autor.



Pedra filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
É tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral
pináculo de catedral
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo de Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Columbina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

in Movimento Perpétuo, 1956

Semana da Ciência e da Tecnologia - Actividade do nosso Blog


Tertúlia On-Line de Comemoração da Semana da Ciência e Tecnologia e do Aniversário do Nascimento de Rómulo de Carvalho

Pretendemos fazer a comemoração on-line da Semana da Ciência e Tecnologia 2007, com publicação de textos e poemas alusivos à temática, neste e noutros Blogues. Neste momento (23.30 horas de 18.11.2007) os Blogues participantes inscritos são:

Ficamos à espera de mais adesões...

Por este rio acima - 25 anos depois

Assinalam-se hoje os 25 anos do LP de Fausto "Por este Rio Acima", um disco que marca definitivamente a história da música popular feita em Portugal.

Foi a 19 de Novembro de 1982, que o nosso conterrâneo Fausto (inspirado na "Peregrinação" de Fernão Mendes Pinto) cria este marco ímpar da música portuguesa.

"Por Este Rio acima" é uma viagem pelos mares da Descobertas e pela Aventura, mas também, como diz Fausto no disco, "por cima dos pensamentos".

É um disco imbuído de felicidade, onde tudo encaixa de maneira natural, fruto, em parte, da rodagem que sofreu no período anterior à gravação e ao extremo cuidado posto nos variados aspectos técnicos.

Um dos melhores álbuns de sempre de música portuguesa (e não é bairrismo, é uma opinião generalizada de críticos musicais).

sábado, novembro 17, 2007

Breuil-Le-Sec


Acho interessante a ideia de a nossa terra estar geminada com uma localidade francesa onde reside um nosso conterrâneo, até porque muitos dos nossos imigrantes estão em França. Hoje sugeríamos ao visita a dois sites (em francês) para conhecerem Breuil-Le-Sec. Esta localidade situa-se a norte de Paris, perto de Compiègne (onde se assinou o Armistício da I Grande Guerra Mundial) e Noyon (que eu conheço, pois vi nessa localidade o Eclipse Total do Sol em 11 de Agosto de 1999, terra onde nasceu Calvino, um dos fundadores da Reforma Protestante) na região da Picardia e Departamento de Oise.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Chuva de estrelas deste fim-de-semana

ENXAME DE METEOROS DAS LEÓNIDAS

Neste momento a Terra cruza a órbita do Cometa Tempel-Tuttle e são os restos deste cometa os responsáveis pelo enxame de estrelas que decorre anualmente entre 14 e 20 deste mês, o enxame das Leónidas.

As noites de 17, 18 e 19, são as datas de máxima intensidade desta chuva. O número de estrelas cadentes observado por hora não é muito elevado, mas há boas esperanças que, pelo facto de o cometa ter passado pelo Sol há pouco tempo, haja este ano um aumento significativo de meteoros.

Os apaixonados por este tipo de fenómenos, e os curiosos em geral, poderão nas próximas noites perder algumas horas de sono para apreciar este belo espectáculo.

Os cálculos mostram que em Portugal a observação do pico das Leónidas, será na madrugada do próximo dia 18 de Novembro de 2007, domingo, pelas 02.46 horas muito antes da alvorada. Só nos resta esperar boas condições meteorológicas

O nome deste enxame resulta de os traços das suas estrelas cadentes nos parecerem sair dum ponto da constelação do Leão (o radiante). Como esta constelação só começa a nascer lá para a meia-noite, as observações deverão iniciar-se na 2ª metade da noite.

Conselhos: ir para um local escuro, fora das luzes dos centros populacionais, com um horizonte desimpedido; esperar que os olhos se habituem à obscuridade (cerca de 15 minutos); ir agasalhado e, para maior comodidade, levar uma cadeira (do tipo de cadeira de bordo ou de praia) para poder olhar bem para o alto.

Se o céu se apresentar límpido terá uma maravilhosa visão do céu... Ver-se-á Saturno (mesmo na constelação do Leão) e as maravilhosas estrelas e constelações de Inverno já aparecerão em todo o seu esplendor: Aldebarã e as Pleiades do Touro, a linda Capela muito alta, a brilhante Sirius, Procyon, os Gémeos Castor e Polux, e baixa, a estrela Arcturus.

Não oferecendo perigo para a Terra, estes meteoros poderão eventualmente danificar os inúmeros satélites, científicos e de comunicações, que orbitam a Terra.

Para obter mais informação sobre os "Enxames de Meteoróides" consulte no nosso site a página Almanaques/Outros elementos

Para ver uma imagem que representa o céu às 03h na madrugada do dia 18 de Novembro, consulte:

http://www.oal.ul.pt/index.php?link=destaque&id=88

segunda-feira, novembro 12, 2007

Cometa 17P/Holmes


O cometa Holmes continua visível, no céu.

A cabeleira está maior, embora a sua magnitude tenha descido.

Isto é: perdeu intensidade, o seu brilho. Na carta celeste que mostramos, cortesia da revista de astronomia Sky and Telescope, mostramos a sua localização. Deve-se olhar para os céus altos na direcção de noroeste. Como ponto de referência procurar a constelação Cassiopeia, que é bem visível pois as suas estrelas parecem formar um W. Aproveitar este fim de semana, ao cair da noite, antes que a Lua venha por aí, de novo, a estragar tudo...


Post roubado ao Blog Astronomia-Algarve, de Vieira Calado.

sábado, novembro 10, 2007

Dia da Papoila - notícia do Público

Ela está no peito de quase todos os britânicos
A papoila vermelha de papel que nasceu de um poema
07.11.2007 - 19h51 - Ana Fonseca Pereira

Milhões de papoilas de papel são produzidas anualmente para a campanha de angariação de fundos

Ela está nas lapelas de muitos britânicos por estes dias. A cor vermelha chama a atenção, em especial de quem desconhece o seu significado e parece ser esse o objectivo. A papoila de papel que invade as ruas nos primeiros dias de Novembro é uma homenagem aos soldados que perderam a vida em combate, símbolo de uma campanha de solidariedade que nasceu de um poema escrito no campo de batalha.

Todos os anos, milhões de pequenas papoilas de papel são vendidas por voluntários da Legião Real Britânica, a maior associação de apoio a ex-combatentes do país, numa campanha de angariação de fundos (a “Poppy Appeal”) para custear a assistência a milhares de antigos e actuais militares. Os voluntários saem para as ruas nas semanas que antecedem o Dia da Memória, a 11 de Novembro, quando são recordados os que combateram nas duas guerras mundiais e também os que perderam a vida nos recentes conflitos das Malvinas, Iraque e Afeganistão.

A primeira homenagem aos militares mortos no campo de batalha foi celebrada em 1919, um ano depois do armistício – celebrado à “11ª hora do 11ª dia do 11º mês” – que pôs fim a quatro anos da mais devastadora guerra que o Velho Continente assistira até então, com milhões de mortos e centenas de milhares de estropiados. Mas só dois anos mais tarde, a papoila vermelha se tornaria no símbolo das comemorações, numa associação que curiosamente nasceu do outro lado do Atlântico.

Um poema de sangue

A I Guerra Mundial estava a dias de terminar quando Moina Michael, uma professora americana que trabalhava como voluntária do YMCA (organização humanitária cristã) em Nova Iorque, leu numa revista o poema de John McCrae (1872-1918), um médico do contingente canadiano estacionado na frente de batalha belga.

O poema fora escrito em Maio de 1915, dias depois da segunda batalha de Ipres (Leste da Bélgica), que vitimara milhares de soldados, entre eles o tenente Alexis Helmer, amigo do médico canadiano.

Pouco depois de ter enterrado o amigo, McCrae, sentado nas traseiras de uma ambulância, escreveu em 20 minutos as 15 linhas de um poema que se tornaria elegia aos milhares de jovens que tombaram nos campos de batalha onde nada crescia, à excepção de rubras papoilas. “Nos campos da Flandres crescem papoilas/entre as cruzes que, fila a fila, marcam o nosso lugar (...)”, escreve o médico, narrando a morte em seu redor. O poema termina dizendo: “se trairdes a fé de nós que morremos/Jamais dormiremos, ainda que cresçam papoilas/ Nos campos da Flandres”.

Publicado meses depois na revista inglesa “Punch”, sob o título “Os Campos da Flandres”, o poema ganha rápida popularidade e aclamação unânime. A elegia associa pela primeira vez a memória às papoilas vermelhas, flores silvestres e delicadas cujas sementes resistem anos no subsolo até que são expostas à luz, o que acontecia nas frentes de batalha por acção dos obuses que caíam impiedosos sobre as trincheiras, repetindo um cenário que se espalhara pela Europa durante as Guerras Napoleónicas. A sua cor vermelha mistura-se com o sangue dos mortos, relembrando antigos mitos que associavam a papoila ao sacrifício humano, mas também ao renascimento depois da morte.

O nascimento de um símbolo

Emocionada pelo poema e pela notícia da morte de McCrae – em Janeiro de 1918, vítima de pneumonia e meningite – Moina Michael escreveu uma réplica ao oficial canadiano, sob o título “Manteremos a fé”, lançando a ideia de promover a papoila como promessa de manter na lembrança todos os que morreram na Grande Guerra. Moina comprou numa loja de Nova Iorque pequenas papoilas de papel, colocou uma na lapela e vendeu as outras a voluntárias da associação, iniciando assim uma campanha para que a pequena flor se tornasse símbolo nacional de recordação. Esse objectivo é alcançado em 1920 quando a Legião Americana a adopta como emblema da sua convenção anual.

Presente no encontro estava a francesa Anne Guerin, dirigente de uma associação de apoio a viúvas e órfãos da guerra que, inspirada pelo exemplo de Moina, decide promover a flor como símbolo internacional de homenagem às vítimas de conflitos armados. Mas mais do que um ícone, Guerin viu na pequena papoila uma forma de auxiliar os sobreviventes do conflito e, em breve, a sua associação começou a produzir flores em papel para serem vendidas por grupos de veteranos dos países envolvidos no conflito.

Em 1920 e 1921, Guerin convenceu vários membros da Commonwealth a adoptar o novo símbolo, fornecendo às associações de veteranos as flores produzidas pelas viúvas das zonas devastadas pela Guerra. Nos anos seguintes, contudo, a maioria das associações começaria a fabricar as suas próprias insígnias, uma tarefa que pela sua simplicidade podia ser cumprida pelos muitos mutilados de guerra que não conseguiam arranjar outro emprego.

”Poppy Appeal”

No Reino Unido – o país que a par do Canadá mais viva mantém a tradição – as flores continuam a ser produzidas na Fábrica de Papoilas, uma instituição criada em 1922 pelo major George Howson, fundador da associação de apoio ao deficiente das forças armadas. Instalada em Richmond, no Surrey, a fábrica emprega 42 trabalhadores, a maioria deficientes, tendo produzido na campanha do ano passado 36 milhões de papoilas que, entre outras iniciativas, renderam 26 milhões de libras (37,3 milhões de euros).

Os fundos da campanha – que se estende até 11 de Novembro – representam um terço do orçamento das acções de apoio da Real Legião. Este ano, a associação de veteranos espera elevar o montante angariado para o novo recorde de 27,5 milhões de libras (39,5 milhões de euros), sustentando que o número de baixas registado nos conflitos do Iraque e do Afeganistão “mostram que o trabalho da Liga é mais necessário do que nunca”.

Mas na era da Internet, as papoilas em papel começam a ter rivais virtuais e, nos últimos anos, é possível receber fotografias da pequena flor vermelha no telemóvel e no e-mail para quem fizer doações através de “SMS” ou correio electrónico. Também as comemorações do Dia da Memória – que este ano coincide com um domingo, dia das tradicionais cerimónias militares – pode também já ser vivido de forma virtual, já que a Legião criou no Second Life um memorial idêntico ao Cenotaph instalado desde 1920 em Whitehall, no centro de Londres.

in Público - ler notícia

Dia da Papoila - Vídeos



Dia da Papoila


Quero hoje revelar um segredo: chamaram-me Fernando em homenagem a um tio-avô (Fernando Aguiar) que, antes de partir para a I Grande Guerra, casou com a matriarca da minha família paterna (a minha tia-avó Maria dos Prazeres - a madrinha Prazeres...). Voltou de lá gaseado e pouco viveu depois de regressar.

Assim surgiram os Fernandos e Fernandas na família (eu tinha/tenho vários primos com esse nome, bem como uma tia Fernanda e um tio Fernando, este tendo morrido assassinado no Brasil). E é assim que a I Guerra Mundial, directa ou indirectamente, sempre que me interessou (até porque o meu avô Joaquim - o meu padrinho Joaquim - esteve para ir para o Contingente Português que lá lutou e só se safou porque o Presidente Sidónio Pais - que ele reverenciava, em conjunto com a família real portuguesa - impediu mais envios de tropas).

Recordemos então que, hoje, data em se celebra os 89 anos desde que acabou essa tragédia mundial, há uma tradição anglo-saxónica (no Reino Unido, Austrália e, sobretudo, no Canadá, onde este é um dia muito especial, é conhecido como o Remembrance Day) de celebrar-se tal facto recorrendo a papoilas de papel (que são vendidas para apoiar os antigos combatentes - desta e de outras guerras). Isto deve-se a um poema do ex-combatente canadiano John McCrae (1872-1918), médico e tenente-coronel que, depois de enterrar um amigo, em 1915, escreveu o seguinte texto:

In Flanders’ Fields


In Flanders’ Fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved, and were loved, and now we lie
In Flanders’ Fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders’ Fields.


NOS CAMPOS DE FLANDRES - Tradução livre

Nos campos de Flandres crescem as papoilas
E florescem entre as cruzes que, fila a fila,
Marcam o nosso lugar; e, no céu,
Voam as cotovias, que continuam corajosamente a cantar,
Embora mal se ouça seu canto, por causa dos canhões.

Estamos mortos... Ainda há poucos dias, vivos,
sim, nós amávamos, nós éramos amados;
sentíamos a aurora e víamos o poente
a rebrilhar, e agora eis-nos, todos deitados
nos campos de Flandres.

Continuai a nossa luta contra o inimigo;
A nossa mão vacilante atira-vos o facho:
mantende-o bem alto. Que, se a nossa vontade trairdes,
nós, que morremos, não poderemos dormir,
ainda mesmo que floresçam as papoilas
nos campos de Flandres.

Tradução/adaptação de Pedro Luna



Recordemos então os mortos, incluindo o autor do poema (que faleceu de pneumónica e meningite, quase no final da Guerra) e o seu camarada de armas a quem dedicou a poesia, até porque é honrando os que lutaram (às vezes ingloriamente e por vezes sem ser ser por uma justa causa) que iremos recordar que a Guerra é sempre nefasta. Recordemos que Portugal e nossa região tiveram homens que lutaram pela sua pátria neste conflito e que a nossa terá, certamente, homens que dormem o sono final sob as papoilas dos campos de Flandres. E, já agora, lembremos também a americana Moira Michael, que escreveu uma réplica ao poema e ajudou a perpetuar a celebração da data - Remembrance Day, Poppy Day ou Armistice Day, consoante o país - o nosso Dia do Armistício:

Oh! You who sleep in Flanders’ fields,
Sleep sweet – to rise anew;
We caught the torch you threw;
And holding high we kept
The faith with those who died.
We cherish, too, the Poppy red
That grows on fields where valour led.
It seems to signal to the skies
That blood of heroes never dies,
But lends a lustre to the red
Of the flower that blooms above the dead
In Flanders’ Fields.
And now the torch and poppy red
Wear in honour of our dead
Fear not that ye have died for naught
We’ve learned the lesson that ye taught
In Flanders’ Fields.

domingo, novembro 04, 2007

Cometa 17P/Holmes - uma foto...

(Imagem de João Clérigo e Carlos Reis)

O cometa do momento, ontem à noite. É visível em todo o país...


Post publicado originalmente pelo Blog AstroLeiria.

sábado, novembro 03, 2007

Feira das Tradições da Castanha - Póvoa do Concelho


A III Feira das Tradições e da Castanha começa hoje e termina domingo na Póvoa do Concelho, freguesia onde a produção de castanha é uma das actividades importantes, associada ao sector agro-pecuário.

Além do magusto previsto para domingo, a iniciativa conta com diversos espectáculos musicais, o primeiro, já hoje às 22h00, com o grupo musical “Super Nova”.

O programa prossegue amanhã com uma concentração motard e um passeio pelo concelho de Trancoso até à hora do almoço, altura em que será servido um porco no espeto. À tarde, os céus serão cruzados por parapentes, antes da abertura da exposição sobre Tradições do Concelho.

Para domingo de manhã está previsto um passeio de BTT, a apresentação do brasão da freguesia de Póvoa do Concelho, ao início da tarde, antes de uma sessão de Jogos Tradicionais.

Vai ainda ser possível efectuar passeios de charrete pela freguesia ao longo de todo o domingo, estando disponíveis insufláveis para os mais novos e para os "menos novos", bar aberto com castanha assada e jeropiga.

A III Feira das Tradições e da Castanha é organizada pela Junta de Freguesia de Póvoa do Concelho, Associação de Solidariedade Social “Amigos da Póvoa do Concelho” e Associação Cultural “Os Popós”, contando com o apoio do Município e da Empresa Municipal Trancoso Eventos.

Fonte - Portal de Trancoso

NOTA: É sempre uma alegria dar notícias da nossa vizinha Póvoa, onde eu vivi, em garoto, um ano, onde fiz a Escola Primária e onde tenho muitos amigos. Foi para mim uma grande tristeza quando mudaram o nome da minha Rua da Póvoa - e ainda estou à espera que o nome volte... - pois era um dos nomes mais castiços de ruas da nossa terra.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Como matar o Interior e as suas terras

Com a notícia, por nós já esperada, da tentativa de encerramento da GNR em Vila Franca das Naves, este Governo mantem a habitual tentativa de impor (se a população e os seus líderes autárquicos não se mexerem...) a morte e destruição de muitas das localidades do interior beirão. Depois das Escolas Primárias, de muitos dos Serviços dos Hospitais, dos Centros de Saúde, das estradas e transportes, agora chegou a vez de tentarem roubar a Segurança aos cidadãos de segunda (que é isso que este governo pensa que são os habitantes desse fim-do-mundo que é a Beira Interior...) da nossa região.

Há que unir esforços, preparar a luta, contar armas e preparar as populações para mais esta tristeza que para aí vem - se ainda há homem de barba rija e mulheres como antigamente não seremos novamente espoliados daquilo que merecemos, temos direito e pagamos arduamente com os nossos impostos...!

PS - Se em vez de semearem desertos pelo país, tentassem perceber o que as suas gentes precisam, daqui a alguns anos o nosso país ainda existia... Há que resistir, não calar a revolta, dar voz a quem sabe como impedir a execução da pena de morte que alguns querem dar ao interior e às suas terras!

A GNR de Vila Franca das Naves vai encerrar...?!?

Com grande pesar e preparando aquela que deve ser a luta dos líderes locais e da população de Vila Franca das Naves e das suas aldeias vizinhas contra esta ignomínia, publicamos, do jornal Correio da Manhã, a seguinte notícia:


Segurança: Proposta do Comando-geral
GNR vai fechar 108 postos
2007-11-02 - 13:00:00

A GNR prepara-se para abandonar 108 postos que compõem o seu efectivo territorial. Oitenta e uma localidades vão deixar de ser policiadas pelos militares da GNR, com os respectivos postos a fecharem portas, enquanto os restantes 27 que saem da jurisdição da Guarda, serão entregues à PSP.

A GNR manterá responsabilidade em 397 postos espalhados por 16 comandos territoriais, que resultam da extinção formal de quatro Brigadas Territoriais.

O CM teve acesso ao quadro orgânico de dotação dos postos territoriais, entregue no Ministério da Administração Interna (MAI) pelo comandante-geral da GNR, tenente-general Mourato Nunes. O quadro em causa ainda não é definitivo, já que o ministro Rui Pereira ainda analisa o documento que constitui uma súmula das propostas apresentadas pelos comandantes das brigadas territoriais da GNR.

No entanto, ao que o CM apurou, o MAI aguarda apenas pela publicação, em Diário da República da versão final da Lei Orgânica da GNR (o que deverá acontecer até dia 10), para dar o ‘empurrão final’ à transformação no dispositivo territorial daquela força de segurança.

Após a formalização da nova lei orgânica da GNR, o Governo terá 30 dias para fazer aprovar decretos regulamentares que permitam a aplicação da extinção das quatro brigadas que ainda regulam o dispositivo territorial da Guarda. Em consequência, serão criados 16 comandos territoriais no continente, e outros dois nas regiões autónomas da Madeira e Açores.

Recorde-se que a reforma da PSP e da GNR foi lançada pelo anterior ministro da administração interna, António Costa, em finais de 2005. A 1 de Abril deste ano foi lançada no terreno a reestruturação territorial das duas forças de segurança que, ao que o CM apurou, tem final previsto para Dezembro.

A 14 de Dezembro, GNR e PSP trocarão entre si os últimos departamentos policiais, dando à Polícia a responsabilidade única de policiamento em freguesias ou concelhos com mais de 15 mil habitantes.

BRIGADAS 2, 3, 4 E 5 DESAPARECEM

BRIGADA 2 - 15 POSTOS SERÃO ENTREGUES À PSP: QUATRO COMANDOS

A extinção da Brigada Territorial 2 da GNR, dará origem à criação dos Comandos de Lisboa, Santarém, Setúbal e Leiria. Serão fechados 4 Destacamentos Territoriais, e abertas 5 destas unidades (Rio Maior, Almeirim, Ourém, Palmela e Alcobaça). Fecharão portas apenas 2 postos (Manique do Intendente e São Facundo), estando prevista a entrega de 15 postos territoriais à jurisdição da Polícia de Segurança Pública.

BRIGADA 3 - PSP FICA COM 4 UNIDADES: 29 ENCERRAMENTOS

Quando a Brigada Territorial 3 da GNR fechar portas serão automaticamente criados os comandos territoriais de Beja, Évora, Faro e Portalegre. O nível de comando de Destacamento Territorial terá 3 novas unidades (Beringel, Odemira, e Arraiolos), devendo fechar outras 4 unidades semelhantes. Serão encerrados 29 postos (entre os quais o de Baleizão), passando 4 para a PSP (Beja, Olhão, Vilamoura, e Vila R. de Sto. António).

BRIGADA 4 - CRIADOS 5 NOVOS COMANDOS: PSP COM 7 POSTOS

Segundo o novo mapa territorial dos postos da GNR, está previsto que a PSP receba 7 departamentos da GNR resultantes da extinção da Brigada Territorial n.º 4 (a maior parte dos quais na zona do Grande Porto). Com o encerramento da unidade, serão criados os comandos territoriais de Braga, Bragança, Porto, Viana do Castelo e Vila Real. Deverão fechar portas em definitivo 22 postos territoriais entregues, até agora, à GNR.


BRIGADA 5 - APENAS UM POSTO PARA A PSP: 28 POSTOS FECHAM

O encerramento da Brigada n.º 5, dará origem a 5 Comandos (Viseu, Aveiro, Coimbra, Guarda, e Castelo Branco). Apenas um posto (São João da Madeira) passará para a PSP, enquanto 28 encerrarão de vez as portas. A reforma nesta área prevê ainda o fecho de 4 Destacamentos Territoriais (Gouveia, V. Formoso, Idanha-a-Nova e São João da Madeira), e a abertura de duas destas unidades (Seia e Santa Maria da Feira).


UNIDADES ESPECIAIS ESPERAM POR LEI

A Brigada de Trânsito (BT) e a Brigada Fiscal (BF) da GNR também estão a viver os últimos dias. Ambas as unidades especiais aguardam, à semelhança do dispositivo territorial da GNR, pela publicação em Diário da República da versão final da lei orgânica da Guarda, para se extinguirem.

Em sua substituição serão, respectivamente, criadas a Unidade Nacional de Trânsito, que substitui a BT, e a Unidade de Controlo Costeiro, e a Unidade de Acção Fiscal, que receberão parte do efectivo da BF. Para José Manageiro, presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, as transformações nestas unidades vai deixar “milhares de militares que não serão reaproveitados para as futuras valências, sem conhecimento do futuro”. “O comando e o Governo ainda não se dignaram a responder aos anseios dos profissionais da GNR que sabem que irão ser absorvidos pelo dispositivo territorial, mas ainda não sabem para onde irão”, disse o dirigente.


MUDANÇAS NO POLICIAMENTO

505 POSTOS AINDA ABERTOS

A GNR conta ainda com 505 postos territoriais em funcionamento. Com a reforma, ficará apenas a operar com 397.

13 MIL GUARDAS VÃO PATRULHAR

O novo mapa orgânico dos postos da GNR prevê que cerca de 13 mil militares serão destacados para patrulhar.

POLICIAMENTO DE PROXIMIDADE

A Associação dos Profissionais da Guarda não quer que o fecho de postos ponha em causa a proximidade da GNR.

TRÊS CRITÉRIOS PARA O FECHO

População a segurar, criminalidade e distância entre os postos foram os critérios seguidos na escolha de postos a fechar.


(...)


ANTIGA BRIGADA 5

Vai passar a englobar os actuais distritos de Viseu, Aveiro, Coimbra, Guarda e Castelo Branco.

Postos territoriais que fecham: Campo de Besteiros, Avelal, Cacia, Gafanha da Nazaré, Praia de Mira, Maiorca, Quiaios, Pínzio, Freixedas, Vila Franca das Naves, Freixo de Numão, Paranhos da Beira, Vila Nova de Tazém, Soito, Minzelo, Cebolais de Cima, Malpica do Tejo, Mata, Tinalhas, Unhais da Serra, Caria, Monsanto, Rosmaninhal, Ladoeiro, Cernache de Bonjardim, Alpedrinha, Avanca, Torreira.(28)

Postos que passam para a PSP: São João da Madeira.(1)

Total: 29