O compositor e cantor português, Fausto, lançou nesta quadra um disco duplo, recolhendo gravações antigas, em modo de “o melhor de”, relativo às suas canções de amor, dispersas e misturadas em diversos discos, desde a década de setenta.
Se as canções de amor de Fausto merecem reedição, também as de ódio merecem outra leitura, à luz dos mitos e lêndeas do Portugal moderno.
Uma das composições de amor, Rosalinda, de 1977, merece figurar em qualquer compêndio de música popular portuguesa. Nessa, como noutras, Fausto mistura o amor poético, com o ódio revolucionário derivado da luta de classes e que acalenta em várias das suas composições, contra a “burguesia”, audível desde o ano de publicação do seu primeiro álbum, em 1970.
Em 1974, nos alvores do PREC, Fausto, extremava-se naturalmente à esquerda, associado aos cantores de intervenção, como José Afonso, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira ou Vitorino, colaboradores num segundo disco a que chamou P´ró que der e vier e com letras tão idiossincráticas como Venha cá, Sr. Burguês ou Marcolino ou Daqui desta Lisboa, num poema de Alexandre O´Neill, com a participação vocal de José Afonso.
No disco seguinte, Um beco com saída, de 1975, continuava a saga musical empenhada na intervenção social, em tempo de revolução acelerada e próxima das sonoridades GAC - Vozes na Luta, onde nem faltava o apelo à presença dos camponeses com forquilhas, foices e enxadas, para a Revolução Popular, em toada de chulas e viras.
O longo dos anos, Fausto não mudou muito, musicalmente. Sempre num registo de excelência, o quarto disco, Madrugada dos Trapeiros, de 1978, excede a escala do compositor, naquele que provavelmente será o seu disco mais homogéneo e aperfeiçoado e é esse que contém a obra prima, Rosalinda, acompanhada da Mariana das sete saias e em que se canta que Uns vão bem e outros mal.
Se a obra musical de Fausto ficasse por esses quatro discos, já havia lugar cativo para o compositor, no panteão da nossa música popular. Mas depois disso, houve ainda outros e bons de que aqui não se cuida , agora, falar.
Entre esses quatro, porém, o primeiro dos LP´s, intitulado simplesmente Fausto, de 1970, está esgotado há muitos anos. Foi ouvido por muito poucas pessoas e contém músicas de luxo, como a canção Ó Pastor que Choras, editada antes em single. Conforme se informa neste local selecto, (de onde se retiraram as fotos) parece quem nem sequer existem as bobines originais, que pertenceriam à Philips. Uma perda, para a nossa cultura popular, portanto.
1 comentário:
Fausto é um dos grandes nomes da nossa música. Um dos mais completos. Quanto ao seu primeiro álbum "Fausto" de 1970 é um facto que poucos o conhecem e já aí se revelava um grande músico/compositor.Por acaso tenho que estou a tentar copiar para CD pois tenho todos os discos deste senhor em vinil e CD faltando-me este neste formato.Infelizmente esse e muitos outros trabalhos desapareceram as masteres. Filarmónica Fraude é outro exemplo. Enfim, país de "chicos espertos" .
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